Título: Alimentos e transporte puxam inflação
Autor: Bôas, Bruno Villas; Nobrega, Camila
Fonte: O Globo, 07/02/2009, Economia, p. 23

IPCA em janeiro ficou em 0,48%, acima das expectativas do mercado.

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu mais que o esperado em janeiro, após dois meses em queda, puxado principalmente pela alta de alimentos e transportes. A inflação oficial do país subiu para 0,48% no mês passado, frente a uma taxa de 0,28% em dezembro. Analistas projetavam alta de 0,43%. Segundo o IBGE, que divulgou ontem o resultado, o avanço nos preços foi sazonal e não deve se repetir em fevereiro. Mesmo com a taxa maior, o IPCA acumulado em 12 meses recuou para 5,84%, ante taxa de 5,90% em dezembro. Em janeiro de 2008, a taxa fora de 0,54%.

A inflação acelerou em oito dos nove grupos de produtos acompanhados. Apenas o de vestuário subiu menos (passou de 0,99% para 0,05%), efeito das queimas de estoques no mês. Segundo a coordenadora de Índices de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, não houve alta generalizada.

- Cada grupo teve alguns poucos produtos específicos que puxaram a alta - avalia.

Os alimentos (de 0,36% para 0,75%) foram os que mais contribuíram para a alta da inflação. O maior impacto veio das bebidas: a cerveja ficou 2,31% mais cara e o refrigerante, 1,91%. A variação ocorreu por causa de uma mudança nas regras de cobrança do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que passou a incidir sobre o preço final do produto, e não sobre o volume.

Segundo o IBGE, alguns alimentos sofreram reajustes sazonais, efeito de problemas climáticos que prejudicaram a safra. Entre eles, feijão preto (0,84%), feijão carioca (3,47%), frutas (2,98%), batata inglesa (15,01%) e cenoura (18,24%). Ontem, a dona de casa Neuza Teixeira, de 72 anos, queixava-se do aumento dos preços das frutas e legumes ao fazer compras em um supermercado no Rio.

- Os preços estão subindo há muito tempo, e não param - disse Neuza, que pode comprar cada vez menos com sua pensão de mil reais. - E quando os produtos ficam mais baratos, geralmente é porque a qualidade piorou.

Reajuste de passagens de ônibus contribuiu para alta

A segunda maior contribuição veio dos transportes (0,35%), respondendo por 14% da inflação total. O reajuste de tarifas de ônibus urbanos (3,24%) e intermunicipais (2,92%) foram os responsáveis pela alta, já esperados depois de eleições municipais, quando os aumentos ficam congelados. Segundo o IBGE, são resíduos de reajustes de passagens no Rio, Belo Horizonte, Recife, Belém, Salvador e Curitiba. Estão previstos mais reajustes em fevereiro. No próximo mês, o índice também deve ser afetado pelo aumento das mensalidades escolares.

A valorização do dólar - efeito da crise econômica mundial - começa a aparecer no IPCA. O impacto foi percebido em janeiro nos eletrodomésticos (0,77%), TV e som (0,48%) e remédios (0,61%).

O resultado do IPCA dividiu opiniões. Para Thaís Marzola, da Rosemberg & Associados, mesmo com o índice maior em janeiro, a trajetória de desaceleração da inflação está consolidada. Ela cita que o núcleo por exclusão (que elimina preços administrados e dos alimentos no domicílio) teve a quarta queda consecutiva, de 0,32% em dezembro para 0,27%.

- A queda de preços no atacado e o desaquecimento da economia indicam comportamento benigno da inflação - diz ela, que revisou a expectativa para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Ela esperava corte de 0,75 ponto percentual e agora prevê redução de um ponto na taxa básica de juros, a Selic, hoje em 12,75% ao ano.

IGP-DI também acelera em janeiro, para 0,01%

Para a LCA Consultores, a aceleração poderá estancar o movimento de queda que vinha sendo registrado para as projeções anuais de mercado para o IPCA este ano. A consultoria lembrou que, considerando que o resultado de janeiro se repita nos próximos meses, a inflação no ano ficaria em 4,6%, um pouco acima do centro da meta do Banco Central (BC), de 4,5%.

Após despencar em dezembro, com redução de 0,44%, o Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) ficou estável, com leve alta de 0,01% em janeiro. De acordo com a Fundação Getulio Vargas (FGV), o Índice de Preços por Atacado (IPA) caiu para -0,33%, diminuindo o ritmo de queda ante dezembro de 2008 (-0,88%). A maior alta ocorreu no Índice de Preços ao Consumidor (IPC), com variação de 0,83%. Em 12 meses, o IGP-DI está em 8,05%.

Segundo o coordenador da pesquisa, Salomão Quadros, a tendência do IGP-DI deve ser de queda nos próximos meses.