Título: ACM Neto deve ser eleito corregedor, sob pressão para investigar Edmar
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 11/02/2009, O País, p. 4

DEM vai aguardar decisão do TSE antes de expulsar deputado dono de castelo.

BRASÍLIA. Num acordo com PT, PMDB e outros partidos da base governista, a cúpula dos DEM decidiu indicar o ex-líder da bancada na Câmara Antonio Carlos Magalhães Neto (BA) para substituir o deputado Edmar Moreira (DEM-MG) na 2ª vice-presidência da Mesa, acumulando o cargo de corregedor. Se confirmada sua eleição, marcada para hoje, a primeira missão do novo corregedor será decidir se abre investigação sobre as suspeitas de que Edmar usou notas frias para transferir recursos da verba indenizatória para suas empresas de segurança.

Nos últimos três meses, Edmar declarou ter gasto quase a totalidade dos R$15 mil mensais em segurança pessoal. O novo corregedor terá que decidir se leva adiante a aprovação de um projeto apresentado pelo PSOL derrubando o veto da Mesa à divulgação das notas fiscais que os parlamentares apresentam para justificar gastos:

- Isso vai ser discutido numa comissão que vamos criar para analisar propostas de mudança na corregedoria, no regimento e matérias correlatas - disse o presidente da Câmara, Michel Temer.

Temer veta saque de salário na boca do caixa

ACM Neto evitou adiantar qualquer medida:

- Não posso antecipar nada do que vou fazer antes da eleição. Primeiro preciso ser eleito - disse ao ser anunciado como candidato pelo líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO). - Não é o momento para comemorar ou cantar vitória. É um momento de sobriedade, de dar uma resposta imediata à sociedade.

Diante da pressão do DEM, Temer recuou da decisão anunciada na véspera de pôr ontem em votação projeto que desvincula a corregedoria do cargo de 2º vice-presidente.

Neto foi escolhido na bancada por aclamação, já que se temia uma segunda derrota, no plenário, com o nome de Vic Pires Franco (PA). Neto demorou a aceitar a indicação por preferir atuar nas comissões, principalmente na de Constituição e Justiça, onde tem visibilidade:

- Preciso entender a institucionalidade do cargo, e os partidos precisam entender a gravidade do momento. O respeito que sempre tive a meus adversários, os compromissos cumpridos me credenciam.

Edmar sofreu novo revés. Provavelmente para fugir do confisco judicial do subsídio de deputado para cobrir outras dívidas, o ex-corregedor e mais quatro colegas tinham o privilégio de receber os vencimentos, de R$16.512,09, na boca do caixa, em espécie. A facilidade vai acabar. Edmar conseguiu o pagamento especial no mandato do ex-presidente da Casa Aldo Rebelo (PCdoB-SP), estendido na gestão Arlindo Chinaglia (PT-SP), o que contraria contrato feito pela Câmara, em 2007, com o Banco do Brasil e a Caixa.

- A ordem é para que os créditos sejam em conta corrente - disse Temer.

A executiva do DEM decidiu que antes de expulsar Edmar fará uma consulta ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre o pedido de desfiliação feito por ele. Se for concedida a justa causa por perseguição, como alega Edmar, ele continua no mandato. Se não, o DEM empossa um suplente. Edmar não apareceu ontem na Câmara, e seu futuro partidário é incerto. Tudo indica que ele tentará abrigo no PTB. O ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, do PTB, comentou:

- Não me oponho, mas quem vai julgar é o partido. O Edmar sempre foi um bom companheiro.