Título: Dúvidas sobre plano dos EUA derrubam bolsas
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Fonte: O Globo, 11/02/2009, Economia, p. 21

Em NY, queda foi de 4,62%; Bovespa recuou 2,12%. Bernanke diz que ações de BC americano não são "panaceia".

NOVA YORK, LONDRES, TÓQUIO e RIO. O anúncio do Plano de Estabilidade Financeira dos EUA ontem derrubou as bolsas mundiais, com investidores criticando a falta de detalhes do pacote idealizado pelo secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner. O índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, caiu 4,62%, para 7.888,88 pontos, o menor patamar desde 20 de novembro, considerado por alguns especialistas como o fundo do poço da crise. No Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) encerrou o dia em queda de 2,12%, aos 41.207 pontos. No mesmo passo, o dólar fechou em alta de 2,10%, aos R$2,284.

O Dow Jones abriu em queda e acelerou as perdas logo após o anúncio de Geithner, por volta das 11h (14h em Brasília). O índice eletrônico Nasdaq e o S&P acompanharam a trajetória, com retração de 4,2% e 4,91% ao fim do pregão, respectivamente. Papéis de bancos despencaram. Os do Bank of America, por exemplo, caíram 19%. Nem a aprovação do pacote de estímulo econômico pelo Senado, avaliado em US$838 bilhões, animou o mercado.

- O anúncio foi uma grande decepção - disse o economista-chefe do RBS Greenwich Capital, Stephen Stanley, ao site da CNNMoney. - Teve um inacreditável desenvolvimento (do plano) por semanas, e eles (o Tesouro dos EUA) liberaram um plano com poucos detalhes.

Uma das principais dúvidas dos investidores é como vai funcionar o fundo de até US$1 trilhão para a compra de ativos podres de bancos. O fundo terá dinheiro público e privado, mas não está clara qual será a participação de cada uma das partes nem de onde virão os recursos do governo, já que restam apenas cerca de US$350 bilhões do pacote de socorro a bancos de US$700 bilhões, aprovado ainda na gestão Bush.

Também pesou no mau humor do mercado o depoimento do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, na Câmara dos Representantes. Bernanke defendeu as recentes ações do BC para estimular a economia, mas admitiu elas não são "uma panaceia".

- Apesar de a provisão de ampla liquidez pelo BC para as instituições financeiras ser uma abordagem já testada para reduzir os problemas financeiros, não é uma panaceia - disse ele, em seu primeiro pronunciamento no Congresso após a redução dos juros a zero.

Notícias como a demissão de dez mil funcionários pela General Motors e o corte de duas mil vagas pelo banco suíço UBS - que também anunciou prejuízo de US$7 bilhões no quarto trimestre de 2008 - igualmente puxaram as bolsas americanas para baixo.

Na Europa, as bolsas também terminaram o dia em queda, com Paris liderando as perdas (3,64%). Frankfurt caiu 3,46% e Londres recuou 2,19%. Na Ásia, onde as bolsas fecharam antes do anúncio do plano americano, Hong Kong subiu 0,81%. Tóquio teve leve desvalorização, de 0,29%, com notícias de que bancos russos estariam tentando adiar pagamento de dívidas.

Investidores aproveitam para embolsar ganhos

No Brasil, a Bovespa começou o dia num aparente otimismo e chegou a subir 1,71% no início da tarde, com a expectativa do anúncio de Geithner. No entanto, a decepção com a falta de objetividade e de efeito imediato das medidas fez o Índice Bovespa (Ibovespa) encerrar o dia em queda de 2,12%.

Para o economista-chefe da corretora Ágora, Álvaro Bandeira, os investidores sentiram falta de um maior detalhamento e imediatismo das medidas. Além disso, muitos aproveitaram para vender as ações e colocar no bolso os ganhos recentes, fazendo os papéis caírem.

- Ficou a sensação de que o Tesouro e o Fed não têm instrumentos para matar a crise no peito, vão precisar de um esforço conjunto (com o setor privado). A Bolsa brasileira vem subindo nas últimas semanas, mas o fato é que os dados econômicos continuam muito ruins - avalia Octavio Vaz, gestor de renda fixa da Global Equity. (Felipe Frisch, com agências internacionais)