Título: BNDES amplia prazos e verba para capital de giro
Autor: Beck, Martha; Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 11/02/2009, Economia, p. 23

Presidente da Fiesp pede barreiras a importações argentinas. Amorim condena que protecionismo se alastre.

BRASÍLIA. Num esforço para suprir a carência de crédito no país, o BNDES anunciou ontem a ampliação de prazos e limites de financiamento para várias de suas modalidades de empréstimo. Conforme orientação do governo federal, o foco são operações destinadas a aumentar o capital de giro das empresas, facilitar a compra de máquinas, equipamentos e veículos, além de estimular exportações. Porém, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, informou que parte dos financiamentos ficará mais cara: a taxa média subiu 0,17 ponto percentual, de 8,34% para 8,51% ao ano.

Isso porque R$100 bilhões do total de R$166 bilhões disponíveis no BNDES para financiamentos este ano vieram do Tesouro Nacional, que emprestou dinheiro ao banco a um custo mais alto. A fonte de financiamento do BNDES costuma ser o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Os empréstimos do banco costumam ser corrigidos pela TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), que está em 6,25% ao ano. No entanto, para alguns tipos de crédito, a taxa agora será a TJTN (Taxa de Juros do Tesouro Nacional), que equivale a 8,75% ao ano.

- Mesmo assim, nós preservamos áreas e diluímos o custo mais alto entre uma série de operações - disse Coutinho, lembrando que as linhas do BNDES ainda são mais vantajosas que as de mercado - O BNDES está suprindo uma demanda por crédito que existe no mercado. Nossa percepção é que, por uma aversão a risco, o sistema bancário elevou seus spreads e encareceu as operações. Estamos ajudando a economia a atravessar o fundo do poço.

Para dar mais capital de giro às empresas, o BNDES vai manter aberta até dezembro uma linha de R$6 bilhões que acabaria em junho. O prazo para pagamento foi ampliado de 13 para 36 meses e o valor das operações quadruplicado de R$50 milhões para R$200 milhões. O custo será de 14,5% ao ano.

Coutinho afirmou que já vê uma melhora na economia depois do resultado negativo do último trimestre do ano:

- O ajuste no mês de dezembro foi muito forte e o mês de janeiro indica uma acomodação. São claros os sinais de que parou de piorar. Estamos em um período inclusive de estabilização de expectativas.

Na contramão do discurso adotado pelo governo brasileiro de criticar o aumento do protecionismo no mundo, o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, defendeu que o Brasil imponha restrições às compras da Argentina. A informação foi dada após uma visita de cortesia ao senador José Sarney, novo presidente do Senado.

A medida, segundo ele, seria uma resposta à decisão do vizinho de exigir licenças de importação de pelo menos sete setores desde outubro. Skaf também demonstrou preocupação com a possibilidade de a indústria brasileira ser atingida por exportações chinesas.

- Não estamos falando em protecionismo, mas não podemos deixar de defender nossos legítimos interesses. Há ainda uma ameaça de dumping (venda de produtos a preços abaixo do custo de produção) contra produtos brasileiros. Temos de responder isso impondo restrições às importações argentinas - disse Skaf, apontando os setores de linha branca (geladeiras, fogões e máquinas de lavar), linha marrom (televisores, aparelhos de rádio), produtos siderúrgicos, têxteis e confecções, autopeças, vidros e calçados como os mais prejudicados.

No mesmo dia, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que também visitou Sarney, alertou sobre o risco do alastramento de medidas protecionistas:

- Alastrar o protecionismo é um veneno que agrava ainda mais a situação.