Título: Câmara e Senado dos EUA chegam a acordo sobre pacote: US$789,5 bi
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 12/02/2009, Economia, p. 20

Do total, 65% serão investimentos públicos e 35%, corte de impostos.

WASHINGTON e RIO. Falta pouco, agora, para que o pacote de estímulo econômico do presidente Barack Obama se torne realidade. Ontem à tarde, a Câmara e o Senado chegaram a um acordo sobre o plano. Em vez de custar US$819 bilhões, como queriam os deputados, ou US$838 bilhões como pretendiam os senadores, ele ficou em US$789,5 bilhões. A composição foi distribuída da seguinte forma: 65% de gastos do governo federal e 35% em créditos tributários.

- Perdoem o eufemismo, mas conseguimos chegar a um acordo após muito toma-lá-dá-cá - disse o senador democrata Harry Reid, ao anunciar o sucesso das negociações.

Pelo que foi combinado ontem, a Câmara deve aprovar formalmente o plano de recuperação hoje. E o Senado faria o mesmo amanhã. Dessa forma, Obama terá o documento sobre a sua mesa para assinatura exatamente quando o desejava: na próxima segunda-feira, Dia do Presidente, feriado nacional. Ainda assim, o senador democrata Ben Nelson disse que seria melhor esperar para ver:

- Acontece que muitas das cifras são móveis. Elas podem acabar sendo alteradas em cima da hora. Portanto, até que o pacote seja formalmente aprovado, é melhor não afirmar que já está tudo certo.

A negociação para o acordo de ontem começou na tarde de terça-feira e se estendeu até 23h30m. A essa altura a maior parte do pacote já havia sido esquadrinhada. Por isso vários funcionários trabalharam até a madrugada num novo texto, já contendo algumas das modificações. Segundo um deles, o quadro já estava quase pronto:

- Aconteça o que acontecer, o resultado será aquele que Obama quer.

A Casa Branca já havia orientado deputados e senadores democratas sobre áreas em que o governo estava disposto a ceder. Coube a Rahm Emmanuel, chefe de Gabinete de Obama, passar a noite de terça-feira dando as instruções ponto por ponto.

Cláusula protecionista talvez não afete o aço brasileiro

Dessa forma, foi aceita, por exemplo, a redução do corte de impostos para US$400 por pessoa física e para US$800 para um casal. As cifras anteriores eram de US$500 e US$1 mil, respectivamente. Em compensação, o fundo de ajuda aos estados em dificuldade subiu de US$30 bilhões para US$44 bilhões.

Obama comemorou o acordo repetindo o seu mantra de que já passou a hora de conversas e é preciso agir:

- Não precisamos ir muito longe para ver por que o plano é tão urgente quanto essencial para a nossa recuperação. O que está em jogo não é o futuro do meu governo, mas sim o de nossa economia e o do nosso país.

Apesar da aprovação da clausula "Compre América", mecanismo que impõe o uso de aço e ferro americanos em obras financiadas pelo pacote, o Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) avaliou que as fabricantes brasileiras não serão necessariamente prejudicadas. Segundo o vice-presidente do IBS, Marco Polo de Mello Lopes, tudo dependerá da forma como o mecanismo for regulamentado.

- O Brasil exporta semiacabados para os EUA. Trata-se de placas de aço que, na verdade, são reprocessadas em siderúrgicas americanas. O "Compre América" talvez considere apenas os produtos finais.

Segundo o IBS, as siderúrgicas exportaram US$1 bilhão para os EUA em 2008, maior mercado do setor.

COLABOROU: Bruno Villas Bôas