Título: Os bens de quem manda no Congresso
Autor: Suwwan, Leila; Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 22/02/2009, O País, p. 3

Em 8 anos, patrimônio dos membros das Mesas da Câmara e do Senado cresceu até 207%.

Mesmo sem castelos, como o transferido por Edmar Moreira (DEM-MG) aos filhos, ex-colegas de Mesa Diretora do ex-corregedor na Câmara também registram, como ele, crescimento significativo do patrimônio - de até 207% - , durante os mandatos. Uma análise das declarações de bens dos 11 deputados e dos 11 senadores das Mesas da Câmara e do Senado, entre os anos de 1998 e 2008, revela o perfil: ao todo, sete parlamentares tiveram variação patrimonial superior a 50%, de acordo com os dados entregues aos tribunais regionais eleitorais. Edmar, afastado da Mesa e expulso do DEM por suspeita de sonegar o castelo em suas declarações, teve crescimento patrimonial de 28%.

Em oito anos, o deputado Giovanni Queiroz (PDT-PA), suplente da Mesa, alcançou 207% de aumento - de R$2.381.967, em 1998, para R$7.319.000, em 2006. O valor é superior aos 138,7% de inflação acumulada, de acordo com o Índice Geral de Preços do Mercado (IGPM), da Fundação Getulio Vargas. É esse indicador que corrige os valores no mercado de imóveis. Entre os bens que adquiriu estão 2.700 cabeças de gado, no valor de R$900 mil. O valor de uma de suas fazendas, entre os municípios de Rio Maria e Pau D"Arco (PA), passou de R$555 mil para R$4,5 milhões.

Com atuação discreta, o pedetista está em sua quarta legislatura. Pesa contra ele no STF uma queixa por ocupar indevidamente um apartamento funcional, na época em que ficou sem mandato. Apesar da situação abastada, sua família ficou no imóvel, em Brasília, em 2003, enquanto ele assumia um cargo na Funasa, em Belém - posto que perdeu quando seu partido rompeu com o governo Lula. Ele diz que a renda principal não vem do exercício da política nem da medicina, que já deixou: é do abate de gado.

O maior patrimônio na Mesa da Câmara é o de Giovanni Queiroz, e o menor, de Odair Cunha (PT-MG), com R$140.966. Em 2002, Odair declarara ter apenas um Fiat Uno. O deputado ACM Neto (DEM-BA), substituto de Edmar, registrou um crescimento de 110% no patrimônio - passou de R$38.277 para R$820.561, de 2002 a 2008.

Patrimônio de Sarney variou 100%

Entre os integrantes da Mesa do Senado, o maior patrimônio declarado é o do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP) - R$4.600.000. Em sua declaração de 1998, o senador tinha R$2,3 milhões, dos quais 63% eram referentes à fazenda Pericumã, em Luziânia (GO). Em aplicações financeiras, guardava R$375 mil. Em sua declaração de 2006, há uma forte mudança no perfil patrimonial, além da duplicação de seu valor. Passou a guardar em contas e investimentos bancários 64% de seus bens, R$2,9 milhões - inclusive R$297 mil em espécie. Na Mesa da Casa, o menor patrimônio, em 2006, era o de Serys Slhessarenko (PT-MT) - R$202.883,40.

A maior variação percentual, na comparação entre as últimas declarações apresentadas ao TRE, foi a do senador Mão Santa (PMDB-PI), de 115%. Na declaração de 2002, ele dizia ter R$168.427. O valor passou para R$362.558 em 2006. A assessoria do senador informou que a variação ocorreu por causa da compra de um apartamento financiado. Os dados do TRE do Piauí indicam ainda que o senador Heráclito Fortes (DEM) apresentou um aumento de patrimônio de 57,64% - de R$825.706, em 2002, para R$1.301.6745, em 2006. Segundo a assessoria de Heráclito, o crescimento do percentual se deu, provavelmente, pela "correção dos bens e por investimentos".

O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), foi dos poucos que registraram decréscimo de bens: passou de R$2.716.816,74, em 2002, para R$2.293.644, em 2006. Uma queda de 18%. Situação semelhante à do deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP), cujo patrimônio caiu 10%. Produtor de laranjas e empresário, o deputado, segundo sua assessoria, teve uma de suas fazendas, a Santa Maria, em Presidente Olegário, Minas Gerais, desapropriada pelo Incra. Com isso, o valor total de seus bens passou de R$5.489.236,28, em 2002, para R$4.951.551, em 2006. O deputado Francisco Marcelo Ortiz (PV-SP), que teve crescimento de 66% nos bens de 1998 para 2002, também registrou queda - em 2006, de 4%.

O deputado Inocêncio Oliveira (PR-PE) teve crescimento patrimonial de 24%, entre 2002 e 2006 - de R$5.044.967 para R$6.291.778. Segundo as declarações prestadas à Justiça Eleitoral, o que mudou foi o valor atribuído a dois apartamentos, em Recife. Já o senador Marconi Perillo (PSDB-GO) teve aumento patrimonial de 33% entre 2002 e 2004, passando de R$562 mil para R$748 mil - a diferença se refere à compra, por R$205 mil, de sua casa, no Residencial Alphaville Flamboyant.

Variação semelhante aos 206% de Giovanni Queiroz teve o deputado Ilderley Souza (DEM-AC), que concorreu à quarta suplência - foi derrotado. Entre 2006 e 2008 (quando foi candidato a prefeito de Cruzeiro do Sul , no Acre), passou de R$1.745.000 para R$5.350.000 (206%). Ilderley disse que aumentou o valor atribuído aos imóveis em sua última declaração para "valorizar o patrimônio". De 2006 a 2008, o IGPM foi de 22,86%.

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