Título: Forte ajuste nas contas externas
Autor: Nunes, Vicente
Fonte: Correio Braziliense, 25/03/2009, Economia, p. 15

Déficit nas transações com o exterior fecha o primeiro bimestre com queda de 43% em relação ao mesmo período de 2008. Redução se deve, por exemplo, a quedas nas importações e exportações

A forte desaceleração da economia está se refletindo de forma intensa nas contas externas brasileiras. Todos os indicadores ligados à produção, aos investimentos, à renda e ao consumo estão em queda, o que obrigou o Banco Central a fazer uma profunda revisão em suas projeções para o ano. No acumulado de janeiro e fevereiro, as importações, que vinham se sustentando nas compras de máquinas, equipamentos e matérias-primas pela indústria, encolheram 25% sobre o mesmo período de 2008. Os gastos com transportes (fretes, principalmente) desabaram 46%. Já as remessas de lucros e dividendos diminuíram 58% e o déficit na conta viagens ficou 46% menor. Com isso, o rombo nas transações correntes do país com o exterior inverteu a curva e fechou o primeiro bimestre com retração de 43%, totalizando US$ 3,9 bilhões.

¿No ano passado, com o forte crescimento da economia, o déficit nas transações correntes estava em alta. Agora, com o nível de atividade mais fraca e com as restrições de crédito internacional por causa da crise, houve um rápido e forte ajuste nas contas externas¿, disse chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. ¿As importações e as exportações tiveram quedas expressivas, devido à redução do comércio mundial. Isso levou à diminuição dos gastos com transportes¿, acrescentou. Segundo ele, os brasileiros reduziram as viagens para o exterior por causa da alta do dólar e da insegurança com a renda e o desemprego. Além disso, como estão faturando menos e anteciparam boa parte das remessas no final do ano passado, as multinacionais instaladas no país cortaram significativamente o envio de lucros e dividendos para suas matrizes.

Sendo assim, destacou Altamir, o BC mudou de US$ 25 bilhões para US$ 16 bilhões a projeção de déficit nas transações correntes para este ano. Para chegar a esse número, a instituição diminuiu de US$ 179 bilhões para US$ 141 bilhões as estimativas para as importações. O BC, por sinal, acredita que a retração da demanda interna será tão intensa, que, mesmo com a queda das exportações, de US$ 193 bilhões para US$ 158 bilhões, o Brasil terá superávit maior na balança comercial (US$ 17 bilhões) do que o imaginado anteriormente (US$ 14 bilhões).

Na avaliação do economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal, o impacto da crise nas contas externas não surpreendeu. Mas o importante, a seu ver, é que não há riscos de o país enfrentar problemas para financiar o déficit em transações correntes, pois, mesmo com a restrição de capitais pelo mundo, o Brasil continuará recebendo investimentos estrangeiros diretos suficientes para cobrir suas necessidades.

Pelas contas do BC, esses investimentos alcançarão US$ 25 bilhões neste ano (ante previsão de US$ 30 bilhões), sendo que US$ 6,3 bilhões serão garantidos nos três primeiros meses. Para George Bezerra, economista-chefe da Máxima Asset Management, o que dá tranquilidade neste momento é a gordura reunida pelo BC nos últimos anos por meio do acúmulo de reservas superiores a US$ 200 bilhões. Parte desse dinheiro está suprindo as linhas de crédito que sumiram do mercado.