Título: Brasil vê indícios de xenofobia em ataque
Autor: Oliveira, Eliane; Martin, Isabela
Fonte: O Globo, 13/02/2009, O País, p. 12

"Não podemos ficar calados diante de tamanha violência contra uma brasileira no exterior", protesta Lula

BRASÍLIA e RECIFE. Em meio à comoção causada no Brasil pela agressão à brasileira Paula Oliveira, na Suíça, o governo brasileiro anunciou que poderá levar o caso ao Alto Comissariado de Direitos Humanos das Nações Unidas. Convencido de que há fortes indícios de xenofobia - aversão a estrangeiros - na sessão de tortura pela qual Paula passou, o governo quer dar dimensão maior ao tema e espera que a ONU recomende às autoridades suíças medidas rigorosas para evitar o recrudescimento dos ataques a imigrantes.

À noite, em Recife, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou indignação com o caso e disse que o governo brasileiro já pediu que a Suíça apure o crime com rigor:

- Eu acho que nós não podemos aceitar e não podemos ficar calados diante de tamanha violência contra uma brasileira no exterior - disse Lula.

Segundo o presidente, o Brasil exigirá respeito com seus cidadãos no exterior:

- O Brasil tem sido um exemplo de como viver com estrangeiros. Aqui nós vivemos em paz, aqui nós recebemos estrangeiros desde que Cabral aqui colocou os pés, e nós os tratamos bem. O que nós queremos é que eles respeitem os brasileiros lá fora como nós os respeitamos aqui, como nós os tratamos bem aqui.

O pai da brasileira, Paulo Oliveira, se disse chocado com a reação da polícia suíça, em entrevista ao "Jornal Nacional":

- Eu não sei do trabalho da polícia, a não ser pelos relatos de constrangimentos que ela causou à minha filha, fazendo com que ela se sentisse ameaçada de processos se não estivesse falando a verdade. Isso me chocou. Ela está em estado de choque. Chora convulsivamente, não se alimenta, não dorme.

Ontem, o Itamaraty convocou o encarregado de negócios da embaixada da Suíça no Brasil, Claude Crotazz, para transmitir sua preocupação com o ataque à advogada, que abortou de gêmeos após ser agredida. Crotazz se reuniu com o chefe do Departamento de Comunidades Brasileiras no exterior, Eduardo Gradilone. A mensagem transmitida às autoridades suíças foi a de que o Brasil espera que os agressores sejam punidos exemplarmente.

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que o caso é "grave e chocante":

- Se, de fato, a agressão foi de natureza xenofóbica, esse é um agravante que deve ser investigado em profundidade. É claro que o caso é chocante. Não podemos fazer nenhum prejulgamento, mas há uma aparência evidente de xenofobia.

Amorim lembrou que Paula não foi assaltada e, aparentemente, não passou por estupro ou violência sexual, o que sugere xenofobia. Paula foi atacada por três homens com chutes e cortada com um estilete. Os agressores escreveram em sua pele a sigla SVP, do Partido do Povo Suíço, de extrema direita. O partido é contrário à proposta de dar direito aos cidadãos da União Europeia de viver e trabalhar na Suíça, aprovada em referendo na véspera do ataque.

O economista suíço Marco Trepp, namorado de Paula, confirmou o ataque neonazista:

- Tudo é 100% verdade.

O ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial de Direitos Humanos, classificou o crime de "gravíssimo".