Título: Pé no acelerador
Autor: Rosa, Bruno; Melo, Liana
Fonte: O Globo, 13/02/2009, Economia, p. 23

Empresas ignoram projeções pessimistas e anunciam investimentos.

Do petróleo ao sal de cozinha, das camisas ao telefone, das bebidas a bombas e válvulas... Empresas no Brasil tomam a direção contrária da crise e começam a anunciar investimentos num momento de desaceleração global. A OGX, empresa de petróleo e gás de Eike Batista, a PWR Mission, de bombas e válvulas, a Coca-Cola, a TIM, a Matte Leão, a Sal Cisne e até a pequena Grande Camiseira são alguns exemplos desse movimento. Até mesmo na indústria automobilística, as negociações para redução de jornada começam a esfriar.

A Coca-Cola Brasil anunciou ontem que investirá R$1,75 bilhão este ano, acreditando que o consumo da Classe C será mantido. O valor é 16,6% maior que o de 2008. O presidente da empresa, Xiemar Zarazúa, ressalta que, em alguns anos, o Brasil pode chegar à segunda posição no mundo. Hoje está atrás dos Estados Unidos e do México. A empresa prepara lançamentos para este ano. O primeiro será uma versão do guaraná com chá verde, o Kuat Eko. Em 2008, as vendas subiram 7%, e o faturamento chegou a R$15 bilhões, alta de 25% frente a 2007.

- O Brasil está acima do crescimento mundial. Para 2009, vamos manter esse ritmo - disse Zarazúa.

Na Leão, empresa que fabrica o Matte Leão, crise é palavra proibida, diz o diretor comercial, Gothardo Gouvêa. A companhia aumentou em 20% o orçamento este ano. Na próxima semana, a empresa lança sua primeira versão em lata - cerca de 30% mais cara que o tradicional copo de plástico. De olho no consumo maior, a companhia inaugura em setembro uma fábrica em Curitiba, passando a produzir 40% mais:

- Começamos o ano bem. Acredito que as vendas vão aumentar 20% este ano. Os produtos de massa tendem a se beneficiar, pois muitos deixarão de comprar carros e itens caros.

OGX inicia exploração em junho

A TIM Brasil, terceira maior empresa de telefonia móvel do país, anunciou ontem que está negociando a aquisição do controle acionário da Intelig, operadora de longa distância do Grupo Docas, do empresário Nelson Tanure. Segundo analistas, o negócio pode ficar entre R$1 bilhão e R$1,5 bilhão. A companhia italiana também está investindo R$2,3 bilhões para a construção de redes de fibra óptica.

A OGX, empresa do grupo EBX, de Eike Batista, anunciou ontem que está antecipando em um mês a exploração na Bacia de Santos, no bloco BM-S-29. O início da perfuração será em junho. O mercado reagiu bem ao anúncio: as ações subiram 3,74%. Com um caixa de R$7,5 bilhões, a OGX pretende investir US$2 bilhões em exploração e outro US$1 bilhão na produção. A OGX quer começar a produzir no fim de 2011.

- A empresa tem a obrigação de abrir 24 poços, mas este número pode chegar a 51 - comentou o presidente, Rodolfo Landim.

Ontem, Eike e seu pai, Eliezer Batista, encontraram-se com o presidente do Senado, José Sarney, para conversar sobre os investimentos da OGX no Brasil. Eike reclamou da burocracia, que, segundo ele, causa muitas dificuldades aos empresários.

O ramo de petróleo e gás garantiu alta de 15% nas encomendas em janeiro deste ano frente a 2008 para a PWR Mission, especializada em bombas e válvulas para perfuração. Segundo Raul Sanson, sócio da empresa que emprega 150 funcionários, a manutenção dos investimentos da Petrobras garantiu a demanda:

- Estou com pedidos até junho. Não temos planos de cortar pessoal.

Luiz Caetano Alves, diretor da Sal Cisne, disse que a expectativa de queda nas vendas em janeiro de 10% virou alta de 15% no faturamento. Os 500 empregados serão mantidos.

- Vamos investir R$3 milhões na compra de máquinas.

Nas pequenas empresas, o cenário ainda é bom. Pesquisa do Sebrae de Minas Gerais apontou que 43,6% dos entrevistados pretendem contratar mais. E Geraldo Gomes Júnior, dono da Grande Camiseiro, efetivou uma funcionária que contratara para o Natal. As vendas subiram 15%.

A recuperação da produção e das vendas de veículos em janeiro, que subiram 92,7% e 1,5%, respectivamente, ante dezembro, trouxe alívio para empresas de autopeças, que passaram a rever planos de ajuste na produção. Valmir Marques da Silva, presidente da Federação Estadual de Metalúrgicos, CUT, diz que "muito menos empresas" estão sugerindo reduzir jornada e salários. Marques, que também preside o Sindicato do Metalúrgicos de Taubaté, citou a decisão da Ford de suspender as férias coletivas de 350 empregados de sua fábrica de transmissões.