Título: Não fecha campanha de referendo
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 14/02/2009, O Mundo, p. 33

Estudantes venezuelanos fazem manifestação final; cansaço atinge ambos os lados.

Depois de uma campanha opositora sem lideranças fortes e ofuscada pela máquina chavista, grupos de estudantes realizaram ontem uma última caravana em Caracas, para pedir à população que vote contra o projeto de emenda constitucional que permitiria a reeleição indefinida do presidente Hugo Chávez, no referendo de amanhã. Na véspera, o presidente foi a estrela do ato de encerramento de campanha do "sim", que, embora mais impactante do que a caravana estudantil de ontem, mostrou que o entusiasmo entre os chavistas é cada vez menor.

A euforia de campanhas passadas desapareceu. Na manifestação de quinta-feira, Chávez falou durante apenas duas horas (seu último discurso na Assembleia Nacional durou mais de sete) e nem assim conseguiu captar a atenção de seus seguidores. As imagens de TV mostraram grupos de manifestantes dispersos e pouco atentos ao discurso. O presidente chegou a solicitar a presença do neto no palco e pediu ao menino, de apenas 2 anos, que completasse a frase "Pátria, socialismo ou morte". Para a decepção de Chávez, o neto começou a chorar, num ato de encerramento do chavismo sem o brilho de épocas passadas.

Deputado espanhol é expulso do país

O desgaste é visível em ambos os lados. Os chavistas ainda representam a maioria no país, mas estão cansados de uma disputa política que parece não ter fim. Nos dez anos de governo Chávez, o país viveu 14 processos eleitorais. A oposição obteve vitórias importantes, como o referendo de 2007, sobre o projeto de reforma constitucional, mas continua acéfala. Ninguém conseguiu construir uma alternativa de poder capaz de desafiar a liderança chavista. Com este pano de fundo, os estudantes ocuparam um vazio que foi fundamental em 2007. Mas a força estudantil já não é a mesma.

- Como muitos venezuelanos, os estudantes estão cansados, desencantados, com o governo e com a oposição - disse Maria Alejandra Morales, professora da Universidade Central da Venezuela (UCV).

Para ela, "nesta campanha os estudantes voltaram a ocupar o centro da cena, mais uma vez, porque não existe um líder opositor de peso".

- Chavistas e antichavistas não têm alternativa. Esse é o grande problema deste país - disse ela.

A revista semanal "Zeta" dedicou várias páginas sobre o papel dos estudantes na política. "Desde que os estudantes apareceram, Chávez é perseguido por uma maldição", opinou. Segundo a revista, o presidente tem medo dos movimentos estudantis e por isso impediu a realização de grandes marchas na última semana. "As proibições foram interpretadas pelos estudantes como um gesto de pânico".

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano pediu ontem ao governo a expulsão do deputado espanhol Luis Herrero, do PP, que solicitara uma credencial para atuar como observador internacional no referendo. Herrero, que foi obrigado a abandonar o país na noite de ontem, realizara declarações críticas em relação ao presidente. O espanhol pediu aos venezuelanos que votassem sem medo e, segundo a imprensa local, referiu-se a Chávez como "um ditador".

O cenário continua incerto. Pesquisas realizadas nos últimos dias antecipavam um empate técnico, mas na reta final a tendência captada é a de crescimento do "sim".

oglobo.com.br/mundo