Título: Vitória chavista esbarra em crise
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 17/02/2009, O Mundo, p. 22

Após derrota, oposição da Venezuela aposta nas divisões internas do governo e nas eleições de 2010.

Em 1998, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, desembarcou no Palácio Miraflores (sede do governo), com o respaldo de 56,2% de seus compatriotas. No referendo de domingo, conseguiu aprovar sua proposta de emenda constitucional que permitirá sua reeleição indefinida com 54,85% dos votos. Embora o governo tenha perdido apoio nos últimos tempos, foi um claro triunfo chavista, alcançado, em grande medida, pela incapacidade da oposição de construir uma alternativa que tenha apelo nos setores mais populares.

No entanto, a vitória do presidente é limitada e não garante um cenário de tranquilidade para os governistas. O chavismo está fortalecido, mas também mergulhado em disputas internas pelo poder acumulado em dez anos de gestão. Paralelamente, a crise econômica mundial e a queda no preço do petróleo ameaçam restringir as políticas assistencialistas, o que poderia aumentar a insatisfação dos mais humildes. A inflação venezuelana foi de 32% ano passado, a maior do continente. O preço do petróleo, praticamente o único produto exportado pelo país, despencou 72% desde julho.

A oposição aposta no desgaste do chavismo e espera ressurgir das cinzas nas eleições parlamentares de 2010. A oposição, segundo admitiram dirigentes antichavistas, deverá encontrar um modo de penetrar na Venezuela que há décadas vive às voltas com altos índices de pobreza e acredita que o chavismo é a única saída.

De acordo com institutos de pesquisa, o "não" à emenda chavista venceu nas principais cidades, nas regiões que vivem da indústria petrolífera (a estatal PDVSA cortou a produção e está atrasando o pagamento a fornecedores) e também em bairros populares de Caracas, como Petare. Mas a oposição foi derrotada nas regiões rurais e nas principais favelas da capital venezuelana e do interior do país.

- A oposição precisa encontrar a forma de chegar à Venezuela rural, porque nela o chavismo venceu com mais de 60% dos votos - explicou Nicolás Toledo, da Consultores XXI. - O problema é que os pobres não estão preocupados com a democracia. O que querem é não perder as esmolas que conseguem com o chavismo. O governo os convenceu que, sem o chavismo, acabarão as políticas sociais implementadas na última década.

Entre os opositores, há a consciência de que algumas metas devem ser cumpridas para obter um bom resultado na eleição parlamentar de 2010.

- Neste referendo, Chávez encontrou uma oposição desnorteada, cansada depois das eleições regionais de 2008. O que precisamos agora é mais coesão, uma liderança forte e um discurso social que supere o chavismo - opinou Rafael Simón Jiménez, que em novembro foi derrotado na eleição para governador do estado de Barinas, terra natal da família Chávez.

Governistas pedem fim da corrupção

Nem o entusiasmo dos estudantes, protagonistas da campanha pelo "não", foi suficiente para impedir a derrota. Na visão do líder estudantil Yon Goicoechea, "neste referendo venceu uma visão caudilhista do país".

- Ampliamos nossos votos (pela primeira vez, a oposição superou os cinco milhões), mas ainda nos falta chegar aos mais pobres - disse Goicoechea, do partido Primeiro Justiça e que espera ser parte da Assembleia Nacional depois da eleição de 2010. - O problema é que crescer democraticamente é mais difícil do que crescer apelando para o autoritarismo.

Os antichavistas pretendem retornar à Assembleia Nacional (nas eleições de 2005, não concorreram) em 2011 e reforçar a oposição, já pensando no pleito presidencial de 2012

Ontem, os governistas Partido Comunista e o Pátria Para Todos pediram a Chávez que reforce o combate a "corrupção, ineficiência e burocracia incompetente".