Título: Suspeita de golpe, Paula é indiciada
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 19/02/2009, O País, p. 3

Imprensa suíça diz que brasileira admitiu farsa; passaporte dela foi confiscado.

OMinistério Público de Zurique abriu ontem um inquérito por falso testemunho contra Paula Oliveira, a pernambucana de 26 anos que alegou ter sido atacada por neonazistas, que teriam marcado seu corpo com estilete numa estação de trem na Suíça, no último dia 9. Assim, desde ontem, ela deixou de ser vítima e passou a suspeita de encenar uma farsa. Segundo o jornal semanal suíço "Die Weltwoche" e a Tele Zurich, a televisão da cidade, Paula já teria confessado à polícia, na última sexta-feira, que sua versão era mentirosa e que ela mesma teria feito os cortes em seu corpo, usando uma faca que comprou no Ikea, uma das maiores lojas de objetos domésticos da Europa. Essa confissão estaria por escrito, segundo os dois órgãos. A Tele Zurich levou ao ar essa notícia no principal jornal da noite de ontem.

Ao divulgar o indiciamento, num comunicado breve, a polícia de Zurique anunciou também o confisco do passaporte e de outros documentos de Paula, como a permissão de estadia na Suíça. Para a mídia suíça, a brasileira teria feito essa simulação pensando em ser indenizada. Ou seja: seria uma golpista.

Família contesta suposta confissão

O jornal explicou que, no caso de uma agressão a uma grávida, como a relatada por Paula, a indenização poderia chegar a R$200 mil. Segundo o jornal, Paula teria garantido à polícia que fez tudo sozinha. Mas a mídia suíça diz que, para a polícia, a participação ou não do namorado de Paula, o economista Marco Trepp, "não está clara".

Ao saber da notícia de que Paula teria confessado a farsa, o advogado Roger Müller, designado pela Promotoria de Justiça de Zurique, disse à TV Globo que "não houve interrogatório formal com o Ministério Público".

- Nossa legislação diz que um depoimento perante à polícia, e não ao Ministério Público, na ausência de um advogado, não tem valor de prova - disse Müller, ao lado do pai de Paula, Paulo Oliveira, que afirmou não ter motivos para duvidar da filha.

Ontem, O GLOBO e uma repórter suíça flagraram um amigo de Trepp indo ao apartamento onde está Paula. Ele saiu com um computador na mão e coletou toda a correspondência da caixa de correio.

- Ele não está bem e está com tratamento psiquiátrico - afirmou o amigo, dizendo que Trepp não quer falar com a imprensa.

Já o promotor de Justiça que investiga o caso, Marcel Frei, disse ao GLOBO :

- Ela está formalmente sendo investigada.

Perguntado se a abertura de inquérito e o confisco dos documentos significam que há elementos para incriminá-la, disse:

- Ninguém sabe?e é essa a razão pela qual estamos investigando neste momento.

Paula vai ser convocada a depor. Frei quer garantir pelo menos um depoimento de Paula à Justiça. Depois, ela pode ser até liberada. A data do depoimento ainda não foi divulgada. Segundo o semanário suíço, Paula poderá ser enquadrada no artigo 304 (crime contra a administração da Justiça), e condenada a até três anos de prisão.

Jornal suíço: "Toda a história foi inventada"

O artigo do semanário "Die Weltwoche" afirma que Paula foi interrogada pela polícia de Zurique na última sexta-feira. Ela teria confessado que não estava grávida e que produziu os cortes. Perguntada pelos policiais sobre o que a motivou, teria respondido: "Pergunte a um psiquiatra". Segundo a revista, a polícia investiga uma possível tentativa de golpe para obter uma indenização.

A confissão de Paula foi protocolada na sexta, às 11h, segundo o artigo, quase uma hora após ela tomar conhecimento do resultado do exame, que indicava que ela não teria engravidado. "Toda a história foi inventada. Não houve nem skinheads nem gêmeos", afirma o jornal suíço.

No início do interrogatório, Paula teria insistido em sua primeira versão, segundo o semanário. Teria contado que em janeiro teria feito um teste de gravidez com material comprado num supermercado, cujo resultado dera positivo. Paula, então, contou que teve a confirmação de que esperava gêmeos de uma amiga médica, num hotel de Zurique, onde teria se submetido a um ultrassom.

Pressionada pelos policiais, e diante do laudo oficial que negava a gravidez, Paula teria confessado, aos prantos, toda a farsa. Sobre a sigla do partido inscrita no seu corpo (SVP), disse que conhecia o partido apenas dos cartazes nas ruas.

COLABOROU: Graça Magalhães-Ruether