Título: Brasileira pode usar doença para tentar escapar de punição por farsa na Suíça
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 20/02/2009, O País, p. 4

Promotoria de Zurique confirma confissão de Paula Oliveira sobre falso ataque.

ZURIQUE. A Promotoria Pública de Justiça de Zurique confirmou ontem que Paula Oliveira - a pernambucana de 26 anos que contou ter sido atacada por neonazistas e enviou para a família fotos com marcas de cortes por todo corpo - confessou ter mentido. A confirmação veio um dia após o semanário "Die Weltwoche" publicar detalhes de uma confissão que, pela lei suíça, deveria permanecer secreta até o fim da investigação. O advogado de Paula, Roger Müller, disse à BBC Brasil que talvez use na defesa o fato de sua cliente sofrer de lúpus, uma doença inflamatória que, entre outros sintomas, pode provocar distúrbios psicológicos:

- Ainda não definimos nossas táticas, mas essa (os efeitos da doença) seria uma delas - disse Müller à BBC.

Paula vai ser interrogada por Marcel Frei, promotor que investiga o caso, na próxima semana, informou Müller. O interrogatório será restrito: na sala, só o promotor, uma assistente dele, Paula, o advogado e uma tradutora.

Paula tem condições de enfrentar interrogatório

Ao GLOBO, Müller disse que Paula está em condições psicológicas para enfrentar o interrogatório. Perguntado se ela tem problemas psicológicos, disse:

- Isso é também um fato que não posso comentar. Vai se revelar no decorrer do interrogatório.

Para Müller, as declarações de sua cliente à polícia não têm valor jurídico, pois não foram feitas diante de um advogado:

- Tudo o que foi dito e não dito até agora foi perante à polícia e não ao promotor, na ausência de advogado. Por isso, não tem qualidade de prova.

A Promotoria de Zurique abriu ontem inquérito para apurar se alguém da polícia, ou da própria procuradoria, vazou informações para o "Die Weltwoche" sobre a confissão de Paula. A pena máxima, caso seja constatado que alguém passou a informação, é a mesma que poderá ser aplicada a Paula: multa ou até três anos de prisão.

Segundo o comunicado da Procuradoria, Paula confessou a mentira em 13 de fevereiro, mesmo dia em que a polícia de Zurique anunciou à imprensa que ela não estava grávida, como havia contado.

"A mulher que alegou ter sido agredida reconheceu diante da polícia ter feito declarações falsas", diz a Promotoria num comunicado. "(Ela) declarou que não aconteceu nenhum ato de agressão e que havia aplicado as feridas de corte nela, por si própria. Quando confrontada com o resultado dos exames ginecológicos, ela confirmou que não estava grávida".

A nota diz que as investigações se concentram nos motivos que teriam levado Paula a tais atos, e, sobretudo, se houve "planejamento" ou "participação de outras pessoas".

Ontem, Paula teria passado dia trancada junto com a mãe, Jeni, no apartamento onde vive com o namorado Marco Trepp. Ele chegou a dar declarações à imprensa suíça logo após o suposto ataque - garantindo que Paula falava a verdade. Não foi mais localizado logo depois de o caso ter estourado e também está sob investigação.