Título: Cresce pressão contra troca em fundo de Furnas
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 25/02/2009, O País, p. 5

Sindicato faz apelo contra "interesses inescrupulosos" que estariam por trás de substituição pedida por ministro.

Aumenta a pressão dos funcionários de Furnas contra as mudanças, previstas para acontecer amanhã, na direção do fundo de pensão da estatal. Em carta aberta distribuída anteontem aos conselheiros da Fundação Real Grandeza, a Associação dos Aposentados de Furnas faz um apelo para que a troca - baseada em "interesses inescrupulosos", segundo o texto - não aconteça. Em carta distribuída aos funcionários na sexta-feira passada, o presidente da estatal, Carlos Nadalutti Filho, justificara a substituição, afirmando que foi "orientação" do ministro das Minas e Energia, Edison Lobão. A queda de braço é em torno de um patrimônio de R$6,3 bilhões gerido pelo fundo, que tem 12.500 filiados, 5.700 deles na ativa.

Entidade diz que fundo vive momento de "encruzilhada"

Foi convocada para amanhã uma reunião, cuja pauta é a exoneração do atual presidente do fundo, Sérgio Wilson Ferraz Fontes, e do diretor financeiro, Ricardo Carneiro Gurgel Nogueira. No encontro, segundo a proposta, Eduardo Henrique Garcia, que seria indicado pelo PMDB, deve ser escolhido para os dois cargos - a área de investimentos seria gerida interinamente. A reunião, marcada para o pós-carnaval, levou os 20 sindicatos lidados à estatal a programarem protestos. Há ameaça de convocação de greve geral dos funcionários a partir de amanhã.

Na carta enviada aos conselheiros, a diretora-presidente da Após-Furnas, Tania Vera Vicente, apela aos conselheiros, diante do que a entidade classifica de "encruzilhada": ou continua atendendo aos interesses dos participantes ou sucumbirá "aos interesses inescrupulosos de pessoas estranhas ao nosso meio, sem nenhum compromisso com o nosso futuro e o de nossas famílias".

Ressaltando que o estatuto da Fundação Real Grandeza, aprovado por portaria de julho de 2008 da Secretaria de Previdência Complementar, garante a independência do fundo de pensão em relação a suas patrocinadoras, a carta é dura ao afirmar que as direções das estatais "não têm competência legal nem moral para opinar nos destinos do nosso patrimônio". E vai adiante: "os deputados, os ministros, os presidentes, os diretores de patrocinadoras, eles daqui a pouco estarão numa outra "missão". Vocês não!", diz o texto, que classifica a pressão de Furnas pelas mudanças como "brutal".

O presidente da empresa argumenta, no documento distribuído aos funcionários, que a atitude dos sindicatos em relação à troca no fundo de pensão demonstra "desrespeito ao processo democrático e legal previsto no estatuto da Fundação, que permite aos conselheiros indicarem novos nomes, a qualquer momento, para assumir essas responsabilidades".

Em documento para seus associados, a Inter Sindical, que reúne 11 sindicatos do setor elétrico, afirma que "por trás disso tudo" estaria o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O parlamentar, que nega as ingerências, também é apontado como o "principal articulador" da troca pela direção da Após-Furnas. Em 2007 e 2008, ainda na gestão Luiz Paulo Conde - também indicado pelo PMDB -, houve duas tentativas de substituição da diretoria da Fundação Real Grandeza, rejeitadas pelo conselho.

Os primeiros protestos contra a mudança aconteceram no dia da convocação: os conselheiros Marcos Vinicius Vaz e Ronaldo Neder renunciaram por não concordar em assinar a proposta de exoneração do presidente e do diretor de Investimentos do fundo de pensão.