Título: Recessão com prazo de validade
Autor:
Fonte: O Globo, 25/02/2009, Economia, p. 15

Bernanke: contração nos EUA pode acabar este ano. Confiança do consumidor é a menor desde 67.

Do New York Times*

No mesmo dia em que o Conference Board anunciou que a confiança do consumidor americano em fevereiro caiu para o menor patamar desde 1967 e outros dados macroeconômicos confirmaram o atual estado de penúria da economia americana, a declaração do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, de que a recessão poderá acabar este ano, acalmou os mercados. Em audiência no Comitê de Bancos do Senado dos Estados Unidos, o presidente do Fed admitiu que as finanças do país vivem hoje uma "severa contração", mas prometeu usar todos os instrumentos à sua disposição para pôr a economia de volta aos trilhos. Bernanke também disse que as medidas do governo Obama para resgatar os grandes bancos americanos em dificuldade não visam à estatização dessas instituições.

- Se as ações conduzidas pelo governo, pelo Congresso e pelo Fed forem bem-sucedidas em restaurar a estabilidade da economia, haverá uma perspectiva razoável de que a atual recessão termine em 2009, e 2010 se torne um ano de recuperação - disse Bernanke aos senadores.

Preço de imóveis tem queda recorde

As declarações de Bernanke aliviaram as preocupações de alguns investidores em Wall Street com respeito à economia e à presença do governo no controle dos bancos. Com isso, o índice Dow Jones saiu de seu menor patamar desde 1997 com uma alta 3,32%, para 7.350,94 pontos. O S&P"s 500 avançou 4,01%, para 773,14 pontos, e o indicador das empresas tecnológicas Nasdaq encerrou com alta de 3,9%, aos 1.441,83 pontos.

O otimismo também chegou ao mercado de petróleo, com a cotação do barril do tipo leve para entrega em abril avançando 3,9%, para US$39,96. Em Londres, o preço do petróleo do tipo Brent subiu 3,7%, para US$42,50 o barril. Sem o efeito das declarações de Bernanke, as bolsas de Europa e Ásia caíram: Frankfurt perdeu 1%; Londres, 0,9%; Paris, 0,73%; Tóquio, 1,4%; e Hong Kong, 2,8%.

Bernanke disse que a economia continuará numa tendência de contração no primeiro semestre de 2009, e que a recuperação exigirá, além das ações em curso pelo governo, que os mercados financeiros e de crédito voltem a operar normalmente. Com relação aos bancos, o presidente do Fed afirmou que estatizar formalmente essas instituições "simplesmente não é necessário".

- Não há estatização - disse.

O discurso de Bernanke coincidiu com dias seguidos de fortes perdas nos mercados americanos, o que deixou as ações mais baratas e, consequentemente, mais atraentes aos investidores. Com isso, os mercados preferiram não considerar os dados negativos da economia divulgados ontem.

O principal deles foi o dado do Conference Board sobre a confiança dos consumidores americanos, indicando uma queda recorde em fevereiro. O índice recuou 12 pontos, para 25, o mais baixo patamar desde 1967, quando a série foi iniciada. Em janeiro, o índice foi revisado para 37,4 pontos. Segundo o Conference Board, o grande volume de demissões em massa é apontado como o principal motivo para o pessimismo do consumidor.

Já o índice do setor imobiliário da Standard & Poor"s indicou que os preços dos imóveis americanos tiveram queda recorde em dezembro. Residências unifamiliares nas 20 principais metrópoles americanas perderam 18,5% de seu valor em dezembro do ano passado, na comparação com o mesmo mês de 2007. Contra novembro de 2008, os números de dezembro mostraram uma queda de 2,5%.

Já no segmento de vendas no varejo, os dados de inúmeros setores, de lojas de departamento a grifes de luxo, revelaram também uma forte retração. A Macy"s anunciou uma queda nos lucros de quase 59% no quarto trimestre de 2008. Suas vendas caíram 7,7%, para US$7,93 bilhões em relação ao mesmo período do ano anterior. Já o Home Depot registrou perda de US$54 milhões no último trimestre do ano passado. O resultado, porém, foi melhor do que o esperado por analistas.

Depois de despencarem na véspera, os recibos de ações (ADRs, em inglês) de empresas brasileiras negociados em Nova York acompanharam a melhora de humor do mercado americano e tiveram um dia de recuperação. Os ADRs da Vale subiram 7,75% e os da Petrobras, 7,41%. A expectativa é grande para a abertura dos negócios hoje na bolsa brasileira, após o feriado de carnaval. Isso porque a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) acabará passando por um ajuste de dois dias em que as bolsas mundiais continuaram funcionando e repercutindo as notícias sobre as medidas do governo americano para recuperar os bancos, avalia Álvaro Bandeira, economista-chefe da corretora Ágora.

COLABOROU Felipe Frisch, com Bloomberg News e agências internacionais