Título: Bernanke: bancos terão 6 meses para buscar capital privado
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 26/02/2009, Economia, p. 24

Presidente do Fed nega estatização, ressaltando que governo só terá participação maior nas instituições, que passarão por "teste de estresse" para avaliar saúde financeira.

WASHINGTON. Ao divulgar ontem os detalhes sobre a ajuda ao setor financeiro, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, afirmou que não é intenção do governo estatizar bancos e que estes, se precisarem de novas injeções de capital, terão o prazo de seis meses para buscá-lo no setor privado. Em audiência no Comitê de Serviços Financeiros da Câmara, Bernanke fez questão de ressaltar que o governo não tem planos de estatizar o Citigroup ou qualquer outro grande banco.

- (A estatização) é quando o governo toma o banco, elimina os acionistas e começa a dirigir a instituição. Não planejamos nada disso - afirmou. - Esse debate sobre estatização é equivocado.

Sobre o pacote de ajuda ao setor financeiro, ele e o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, explicaram que os 19 maiores bancos do país (com capital consolidado acima de US$100 bilhões) terão de passar por um "teste de estresse", para avaliar sua saúde financeira.

- Os bancos serão informados sobre quanto capital precisam levantar, se precisarem de algum. E terão a oportunidade de, em até seis meses, saírem e levantarem capital no setor privado - explicou Bernanke.

O Tesouro admitiu não haver limites para a ajuda individual às instituições, o que poderá fazer o pacote ir além dos US$350 bilhões já aprovados pelo Congresso este ano.

O dinheiro injetado pelo governo nos bancos será transformado em ações preferenciais (sem direito a voto), que vão garantir ao governo dividendos anuais de 9%. Se o banco preferir transformar essas ações em ordinárias (com direito a voto), os papéis serão comprados com desconto de 10% em relação à cotação de 9 de fevereiro.

O teste será realizado projetando-se a situação atual do banco, com seus ativos e respectivos valores, em um cenário de deterioração econômica até 2010, incluindo recessão severa e desemprego alto. Se os testes indicarem que os bancos precisam da injeção de recursos novos, eles terão um prazo de seis meses para buscar capital no setor privado antes de receber ajuda do governo.

Ao divulgar detalhes sobre o teste de estresse, o Tesouro ressaltou que o objetivo das injeções de capital nos bancos não é a estatização. "Mas, à medida que o programa levar o governo a ter uma parcela significativa de uma instituição financeira, nossa meta será manter o período de propriedade governamental o mais temporário possível e encorajar o retorno do capital privado".

Além disso, o presidente Barack Obama anunciou os princípios de uma ampla reforma na regulamentação do sistema bancário americano, com maior interferência do Estado num mercado que por anos atuou como seu próprio legislador e fiscal. O setor terá mais regulamentação, seja por meio de maior supervisão sobre a qualidade dos ativos bancários ou a viabilidade dos produtos financeiros, seja em ações internacionais conjuntas ou novas regras contábeis, para tornar os bancos mais transparentes.

Ainda assim, Obama negou que o país caminhasse para o controle do mercado pelo governo:

- Enquanto os mercados livres são a chave para o nosso progresso, eles não nos dão passe livre para pegar o que quisermos, ainda que possamos fazê-lo.

O secretário do Tesouro ainda informou que os americanos que comprarem o primeiro imóvel terão agora abatimento de US$8 mil na declaração de Imposto de Renda referente a 2008 ou 2009. O objetivo é melhorar o mercado imobiliário. Os recursos virão do pacote de US$787 bilhões.

Em entrevista à emissora pública PBS ontem, Geithner criticou os banqueiros por destruírem a confiança da população, mas ressaltou que a estatização seria a estratégia errada.

(*) Com agências internacionais