Título: Um novo vestibular
Autor: Oliveto, Paloma; Borges, Priscilla
Fonte: Correio Braziliense, 26/03/2009, Brasil, p. 12

EDUCAÇÃO

MEC propõe outro modelo de ingresso nas universidades federais, baseado no formato do Enem. Exame também seria unificado, servindo para todas as instituições. Reitores discutirão a medida

Pavor dos estudantes do ensino médio, o vestibular poderá acabar nas instituições federais ainda este ano. Mas os alunos não deixariam de ser testados: no lugar da prova tradicional, entraria Um novo modelo, com questões sobre quatro áreas do conhecimento e Uma redação. O mesmo teste serviria também para todas universidades. A proposta foi apresentada ontem pelo Ministério da Educação (MEC) à Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e será oficializada em Um docUmento na próxima segunda-feira. O ministro Fernando

Haddad afirmou que deseja ver o exame aplicado já no fim de 2009, mas admitiu que as discussões sobre o projeto poderão adiá-lo.

Como têm autonomia, as universidades não podem ser obrigadas a abandonar as seleções tradicionais para aderir ao novo modelo. Em duas semanas, os reitores vão discutir a proposta do MEC durante a plenária da associação. O presidente da Andifes, Amaro Lins, não quis adiantar se é favorável, pessoalmente, à medida, alegando que o projeto ainda está em fase embrionária. Mas afirmou que em Pernambuco as três federais adotaram o vestibular unificado e que a experiência deu certo. ¿Não vejo nenhUma objeção¿, afirmou.

O exame, segundo Haddad, vai combinar o que deu certo no vestibular e no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem). De Um lado, a força do conteúdo, explorada na forma de ingresso tradicional. De outro, o estilo de perguntas da prova feita pelos estudantes do 3º ano do ensino médio. O ministro acredita que Uma nova forma de ingresso poderá mudar o currículo dessa etapa da educação. ¿Queremos Um ensino médio que explore a capacidade de raciocínio, promova mudanças mais voltadas à especulação científica e seja menos voltado para a memorização ou mero caráter informativo¿, explicou.

Seria a consolidação das políticas de reformulação do ensino médio, que incluem o acesso gratuito ao livro didático, à merenda e ao transporte escolar, a reforma do Sistema S e a expansão do Bolsa Família para estudantes de até 17 anos. Se as federais aderirem ao projeto, o estudante não vai precisar fazer várias provas nem se deslocar pelos estados. Assim como ocorre nos Estados Unidos desde 1900, o aluno faria Uma única prova e tentaria ingressar no curso e no estabelecimento escolhidos. Haddad disse ainda que outras instituições, mesmo as privadas, poderão aderir à prova se quiserem.

Para o presidente do movimento Todos pela Educação, Mozart Neves Ramos, é importante repensar o modelo do vestibular, mas seriam necessárias algUmas adaptações. ¿Esse exame poderia ser igual para a primeira etapa da seleção. Já a segunda seria de acordo com cada instituição, observando a peculiaridade de cada área¿, opina.

Em nota, a União Nacional dos Estudantes (UNE) aprovou a proposta. ¿A criação de Um nova forma de ingresso e a extinção do atual modelo de vestibular nas universidades federais é Uma reivindicação antiga do movimento estudantil¿, afirmou a presidenta da entidade, Lúcia StUmpf.

Dúvidas Os estudantes de pré-vestibular Eduardo Lassance, 20 anos, Pedro Cordeiro, 19, Ludmilla Guedes Xavier, 21, e Gabriela Maria Lobo, 20, têm dúvidas sobre as vantagens da proposta para os alunos. Pedro teme que o nível da seleção caia muito e a disputa por algUmas faculdades seja bem maior. Eduardo não acredita que o Enem seja Uma boa base para a nova prova, por conta do nível de dificuldade da avaliação. ¿Acredito que a intenção do ministro é boa, mas não é isso que vai resolver os problemas da universidade, que está na estrutura, na falta de vagas¿, pondera Gabriela.

Em compensação, eles admitem que o processo único facilitaria os estudos e a inscrição nas diversas instituições do país. Eles contam que, hoje, precisam estudar separadamente para os vestibulares, porque cada Um cobra conteúdos distintos. ¿É Uma vantagem estudar de Uma vez para todos¿, concorda Gabriela. Não haveria também choque de datas de provas.

Um CURSO DE CADA VEZ A Câmara dos Deputados aprovou ontem Um projeto de lei que proíbe alunos de fazer, ao mesmo tempo, dois cursos de graduação em faculdades públicas diferentes ou de fazer dois cursos na mesma instituição. O projeto segue para votação no Senado.