Título: Obama: esperança para ir além de Kioto
Autor: Rosenthal, Elisabeth
Fonte: O Globo, 02/03/2009, O Mundo, p. 22

Posição do novo governo muda equação global e favorece chance de obter tratado eficaz sobre emissão de gases.

NOVA YORK. Até recentemente, a ideia de que as mais poderosas nações do mundo se uniriam para combater o aquecimento global parecia um sonho dos ambientalistas. O Protocolo de Kioto, assinado em 1997, foi amplamente considerado como algo falho. Muitos dos países que assinaram o acordo deixaram para trás suas metas de frear as emissões de dióxido de carbono. Os Estados Unidos se recusaram até mesmo a ratificá-lo. E o tratado abriu passagem para os principais países em desenvolvimento emissores, como a China e a Índia.

Reuniões em Washington discutem tema esta semana

Mas nessas poucas semanas desde que tomou posse, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, tem mudado radicalmente a equação global, situando o país na vanguarda dos esforços internacionais climáticos e aumentando a esperança de que um efetivo acordo internacional pode ser possível. O chefe de negociações climáticas de Obama, Todd Stern, disse na semana passada que o país se envolveria intensamente na negociação de um novo tratado - que deverá ser assinado em Copenhague, em dezembro.

Esse tratado, especialistas envolvidos afirmam, vai se diferenciar significativamente do acordo de uma década atrás, indo além da redução das emissões de gases de efeito estufa, incluindo mecanismos financeiros e promovendo assistência técnica para ajudar os países em desenvolvimento a cooperar com as mudanças climáticas.

A percepção de que os EUA estão agora seriamente envolvidos com a questão tem um grande peso em promover uma agitação diplomática pelo mundo.

- A lição de Kioto é que, se os EUA não estavam levando isso a sério, não havia motivo para ninguém mais levar - disse Bill McKibben, que dirige a organização ambiental www.350.org.

Esta semana, o principal representante da ONU para questões climáticas, Yvo de Boer, realizará encontros em Washington para discutir o tema. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, está organizando uma reunião com o alto escalão para falar de clima e energia. Equipes do Reino Unido e da Dinamarca já visitaram a Casa Branca para discutir tais questões. E, na China, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, fez do clima o foco central da sua visita e propôs uma parceria com os Estados Unidos.

Mas um tratado global ainda enfrenta sérios desafios em Washington e no mundo, e as negociações serão um teste para saber o quão longe os EUA e outras nações estão dispostos a ir para combater as alterações climáticas num momento em que economias em todo o mundo estão em crise. A recessão global em si provoca expectativas de uma redução da emissão de gases de efeito estufa.

- A questão nº 1 será mostrar a todos que os EUA estão num urgente e transformador caminho para uma economia com baixas emissões de carbono - disse John Ashton, secretário britânico de representação para alterações climáticas.

O governo Obama tem dito que vai avançar na legislação federal este ano para reduzir emissões de dióxido de carbono no país - uma promessa que ele reiterou terça-feira em seu discurso no Congresso.