Título: O MST tinha um arsenal e estava pronto para confronto, diz delegado
Autor: Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 03/03/2009, O País, p. 4
Um dos sem-terra indiciados fornecia armas para integrantes do movimento.
Legenda da foto: JANAÍNA (à esquerda) e Emanuele, viúvas de seguranças: elas dizem que os maridos foram vítimas de emboscada
SÃO JOAQUIM DO MONTE (PE). No inquérito enviado ontem à Justiça, o delegado Luciano Soares, de São Joaquim do Monte, em Pernambuco, informa que o sem-terra Paulo Alves Cursino, de 62 anos, um dos indiciados pelo assassinato de quatro seguranças de fazendas, abastecia com armas os integrantes do Movimento dos Sem Terra (MST) envolvidos no confronto. O outro indiciado, Aluciano dos Santos, de 31, teria sido o responsável pelos tiros que mataram os vigilantes. Segundo o delegado, pelo menos duas testemunhas denunciaram a presença de armas de fogo guardadas num barraco do acampamento dos sem-terra.
- Pelo que dizem as testemunhas, o MST tinha um arsenal e estava pronto para o confronto. Um dos acampados, de acordo com testemunhas, chegou a levantar a camisa várias vezes, para exibir dois revólveres na cintura para os seguranças - disse o delegado.
Com o envio à Justiça de parte do inquérito que investiga a chacina, os dois sem-terra presos já podem ser denunciados pelo Ministério Público por homicídio qualificado e coautoria. O delegado disse que as armas do MST desapareceram. No dia do crime, o coordenador do movimento em Pernambuco, Jaime Amorim, disse que os sem-terra reagiram à altura à agressão dos seguranças e que isso não poderia ser feito "com facão".
Já foram ouvidas sete pessoas, inclusive uma testemunha-chave, o segurança Donizete de Souza, de 24 anos, o único sobrevivente da chacina, no dia 21. O delegado disse que outros quatro sem-terra se envolveram nos homicídios e que está tentando identificá-los. Um deles, conhecido por Romero, foi ferido e fugiu de um hospital em Agrestina. O delegado quer identificar os outros sem-terra e achar as armas usadas no crime.
Ainda serão realizadas perícias para tentar descobrir de quem são as armas encontradas anteontem perto do local do crime. O MST diz que elas pertencem aos seguranças. O delegado enviará as armas para o Instituto de Criminalística, em Caruaru.
- Queremos saber se elas sofreram disparos e se teriam sido utilizadas no crime.
Os dois acusados estão presos em Caruaru. À tarde, Donizete voltou delegacia para fazer o reconhecimento das armas encontradas anteontem. Ele não permitiu ser fotografado e seu depoimento foi sigiloso. Donizete disse que teme ser morto.
As armas (duas espingardas calibre 12 e um revólver 38) são semelhantes às de fotos distribuídas pelo MST. As fotos foram o estopim de uma crise que vinha se agravando nos últimos meses. Segundo a viúva de uma das vítimas, Emanuele Borges, esse foi o terceiro confronto:
- Meu marido e os outros foram vítimas de uma emboscada. Eles foram chamados para o acampamento pelos sem-terra, que prometeram entregar as fotografias. Essas fotos que o MST está divulgando não foram do dia do conflito. No dia da chacina, eles estavam desarmados.
Janaína Ferreira da Silva, outra viúva, também acusou os sem-terra de armarem uma emboscada. Segundo testemunhas, porém, os dois lados tinham armas. As encontradas anteontem são clandestinas. Por isso, o dono da Jabuticaba, Stemilton Guedes, será convocado a depor.
Os exames feitos pelo Instituto de Criminalística não constataram resíduos de nitrito ou de chumbo nas mãos do sem-terra Aluciano. Mas a perita criminal Dulce Azevedo explicou que resultados negativos "não são suficientes para descartar a possibilidade de culpa por parte do sem-terra nos homicídios".