Título: No Maranhão, MST toma partido de governador
Autor: Garrone, Raimundo
Fonte: O Globo, 03/03/2009, O País, p. 5

Movimento, que tem contrato com estado e disputa outros 5, mobiliza sem-terra contra cassação de Jackson Lago.

SÃO LUÍS. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) deixou em segundo plano as ocupações de fazendas no Maranhão e se engajou na luta política contra a possível cassação do governador Jackson Lago (PDT), que deverá ter seu caso julgado hoje pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O MST mobiliza centenas de sem-terra para acampar em frente ao Palácio dos Leões, sede do governo estadual, em defesa de Lago, que pode ter o mandato cassado por abuso de poder econômico.

- Não defendemos o governo Jackson, mas a democracia e a vontade popular - diz Maria Divina Lopes, uma das coordenadoras do MST no Maranhão.

Maria Divina diz que a mobilização não tem relação com as parcerias do movimento com o governo estadual. Uma delas foi fechada em 2008, na presença de João Pedro Stédile, um dos coordenadores do MST, e do presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Na ocasião, foi assinado convênio com o governo do Maranhão para a implantação de um projeto de alfabetização de adultos importado de Cuba e da Venezuela - batizado de "Sim, eu posso" - que, segundo o movimento, acabou com o analfabetismo nos dois países.

O MST organizou o acampamento nas duas outras sessões que ocorreram para julgar o caso no TSE, adiado devido a pedido de vista e falta de quórum. Em todas essas ocasiões, Stédile participou dos acampamentos.

Segundo o relator do processo, ministro Eros Grau, Lago deve perder o mandato e dar posse à segunda colocada nas eleições de 2006, a senadora Roseana Sarney (PMDB). Essa, segundo os integrantes do MST, é outra razão para a defesa de Lago.

- Além disso, estamos contra o retorno da família Sarney ao governo do estado, pois, durante os 40 anos de seu domínio, o Maranhão foi completamente arruinado - disse Pedro Alves Barbosa, também coordenador do MST no Maranhão.

Para acompanhar o julgamento, o MST mobilizou cerca de 200 sem-terra do interior do estado, que armaram barracas em frente à sede do governo.

Após contrato de R$500 mil, MST tenta mais R$2 milhões

O convênio para o programa de alfabetização foi de R$500 mil e, segundo o MST, alfabetizou 1.236 trabalhadores sem- terra, dos 1.546 inscritos em oito meses de projeto em 55 assentamentos e 16 acampamentos no estado. O MST ainda aguarda respostas para outros cinco projetos, no valor total de R$2 milhões, nas áreas de caprinocultura e hortaliças.

Maria Divina disse que novas negociações estão sendo feitas com o governo para levar o programa de alfabetização a mais cinco mil sem-terra.

Os vídeos com aulas do programa foram produzidos em Cuba, em 2005, por artistas populares brasileiros patrocinados pelo próprio MST. Além de TV e DVD, as aulas são monitoradas por coordenadores que fazem o acompanhamento pedagógico. Sobre os outros cinco projetos nas áreas de caprinocultura e hortaliças, Pedro Alves diz que o MST participou de um edital lançado pelo governo estadual em julho de 2008 para realizar convênios com recursos do Fundo Maranhense de Combate à Pobreza.

- Três dos cinco projetos foram devolvidos para ajustes, o que foi devidamente feito ainda no mês de setembro. Mas, até agora, nada - lamenta Pedro Alves.

(*) Especial para O GLOBO