Título: Lula não falou com cubanos, diz Planalto
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Fonte: O Globo, 03/03/2009, O País, p. 5

Governo comemora afirmação de pugilista de que não foi obrigado a sair do país.

BRASÍLIA. O Palácio do Planalto negou ontem que o presidente Lula tenha conversado com os boxeadores cubanos Erislandy Lara e Guillermo Rigondeaux e perguntado a eles se queriam ficar no Brasil. Em 2007, os dois abandonaram a delegação do seu país, durante os Jogos Pan-Americanos do Rio, foram pegos pela polícia e mandados de volta a Cuba. Em entrevista exibida domingo pelo "Esporte espetacular", da TV Globo, Lara, que depois fugiu de Cuba para Miami, nos EUA, disse que foi muito bem tratado por Lula, que teria oferecido refúgio a eles, mas que quis voltar a Cuba, apesar de ter escapado depois para Miami.

Na entrevista, o atleta disse que Lula o tratou bem e ofereceu "tudo o que podia fazer".

- Ele (Lula) perguntou se eu queria ficar no Brasil, e eu disse que não, que ia voltar para Cuba - relatou Lara, sem contar detalhes sobre onde e como teria falado com o presidente. Segundo o Planalto, o diálogo não ocorreu.

O Ministério da Justiça, que sempre defendeu a volta imediata dos cubanos a Cuba dizendo que eles não quiseram ficar no Brasil, comemorou as declarações de Lara. Em nota, afirmou que Lara confirmou a versão do governo brasileiro. "Ele (Lara) afirmou neste fim de semana o que o governo brasileiro sempre declarou à imprensa: nunca, em momento algum, foi negado refúgio a ele e ao companheiro Guillermo Rigondeaux", afirma a nota do ministério.

O ministério não explica, porém, por que os dois atletas foram enviados num avião venezuelano de volta a Cuba tão rapidamente, sem um processo formal. O episódio dos pugilistas cubanos foi lembrado recentemente quando o ministro da Justiça, Tarso Genro, concedeu status de refugiado político ao ex-ativista italiano Cesare Battisti, que continua preso na penitenciária da Papuda, em Brasília. Os opositores no Congresso Nacional acusaram o governo de não ter dado o mesmo tratamento aos cubanos. Com o detalhe de que, no caso de Battisti, o italiano foi condenado à prisão perpétua pela Justiça de seu país por quatro homicídios.

"Lara disse claramente que não foi obrigado a deixar o Brasil e que retornou a Cuba porque o plano de fugir para a Alemanha não tinha dado certo, mesmo depois de assinar um contrato com agenciadores", diz a nota do ministério. Os dois boxeadores, antes de embarcar de volta ao seu país, prestaram depoimento à Polícia Federal. "Desde o primeiro momento, mesmo questionados, não manifestaram interesse em permanecer no país", diz a nota.