Título: Barreiras argentinas causam perda de US$1,5 bilhão por ano ao Brasil
Autor: Oliveira, Eliane; Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 03/03/2009, Economia, p. 22
Mas balança comercial brasileira ficou positiva em US$1,7 bi em fevereiro.
BRASÍLIA. As barreiras protecionistas adotadas pela Argentina contra os produtos brasileiros já afetam 10% do total exportado pelo Brasil ao país. A informação foi dada ontem pelo secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, ao divulgar dados da balança comercial de fevereiro. Segundo ele, isso significa um prejuízo de US$1,5 bilhão, por ano, com mercadorias não embarcadas. Ainda assim, após o déficit de janeiro, a balança comercial brasileira se recuperou no mês passado, com saldo positivo de US$1,767 bilhão.
São exemplos de barreiras não-tarifárias adotadas pela Argentina o licenciamento não-automático - que eleva para mais de 60 dias o tempo de liberação da importação de produtos como eletrodomésticos, autopeças, televisores, siderúrgicos e calçados - e o uso de medidas antidumping. Neste caso, os argentinos impõem cotas, sobretaxas ou preços mínimos no ingresso de uma série de itens, entre eles tecidos e pneus de bicicleta.
- No caso da Argentina, estamos falando de barreiras conhecidas, sem contar a queda da demanda decorrente da crise financeira mundial - afirmou Barral.
Brasil pode recorrer à OMC contra Argentina
Só em fevereiro, as vendas para a Argentina caíram 46,5% em relação ao mês anterior. As maiores quedas foram em combustíveis minerais, produtos químicos, máquinas e equipamentos, eletroeletrônicos, automóveis, entre outros. Ante fevereiro de 2008, a queda foi de 44,8%, por causa de carnes, siderúrgicos e minério de ferro. Nos dois primeiros meses do ano, o superávit brasileiro no intercâmbio bilateral caiu de US$360 milhões para US$57 milhões.
Barral lembrou que Brasil e Argentina estão negociando um acordo que possibilite a volta do livre comércio bilateral. O tema será debatido em encontro em São Paulo, este mês, entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Cristina Kirchner.
O secretário afirmou que, se necessário, o Brasil recorrerá à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a Argentina, para protestar contra o abuso na exigência de licenças não-automáticas e medidas antidumping. Em uma paródia a um texto do escritor Nelson Rodrigues, "Toda nudez será castigada", Barral avisou, em tom de brincadeira:
- Todo protecionismo será castigado.
Apesar dos problemas com a Argentina, a balança comercial brasileira se recuperou em fevereiro e fechou superavitária. Foram US$9,588 bilhões em exportações e US$7,821 bilhões em importações. No mês anterior, havia sido registrado um déficit de US$524 milhões.
Nos dados globais de fevereiro, chamou a atenção o fato de a taxa de redução das vendas externas, de 20,9%, ter sido bem inferior ao índice verificado nas importações, de 30,9%. De acordo com Barral, o forte decréscimo dos gastos no exterior se deve, principalmente, à desvalorização do real frente ao dólar, ocorrida com mais força entre outubro e novembro de 2008.
As exportações em fevereiro só não caíram para a Ásia, com ênfase para a China, que aumentou em 27,9% as compras de produtos brasileiros. Nas importações, houve queda para todos os blocos econômicos.
Mercado corta previsão da Selic para 10,25% em 2009
De acordo com a pesquisa semanal Focus feita pelo Banco Central (BC), a Selic deve fechar 2009 e se manter em 2010 a 10,25% anuais, abaixo dos atuais 12,75% e dos 10,38% apontados no levantamento anterior. É a terceira vez seguida que o número foi puxado para baixo. A projeção de crescimento da economia foi mantida em 1,5% este ano, e reduzida em 2010, de 3,6% para 3,5%. Quanto à inflação pelo IPCA, a expectativa é de 4,66% em 2009.