Título: Embraer rejeita reintegração de demitidos
Autor: D'Ercole, Ronaldo; Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 03/03/2009, Economia, p. 24

Reunião de conciliação acaba sem acordo. Lula conclama companhias nacionais a comprarem aviões da empresa.

SÃO JOSÉ DOS CAMPOS, SÃO PAULO e BRASÍLIA. Terminou sem acordo a audiência de conciliação realizada ontem na sede do Ministério Público do Trabalho (MPT) de São José dos Campos, que reuniu representantes da Embraer e do sindicato que representa seus empregados. Mediador do encontro, o procurador Roberto Pinto Ribeiro propôs a reintegração dos 4.200 funcionários demitidos pela empresa, e a abertura de negociação para se buscarem formas alternativas de redução de gastos da empresa. A Embraer, que foi representada por dois advogados, rejeitou a proposta. Já o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que mais cedo havia classificado como "anomalia" a demissão na Embraer, defendeu ontem que as empresas aéreas brasileiras comprem aeronaves da fabricante paulista.

- A demissão coletiva tem de ser precedida de negociação com o sindicato, o que não aconteceu no caso da Embraer - afirmou Ribeiro.

Embora sem resultados práticos, os sindicalistas consideraram positiva a intervenção do Ministério Público.

- Houve progresso à medida que o MPT converge para uma posição que é mais civilizada, de regulamentar as demissões coletivas no sentido de evitá-las - Aristeu Pinto Neto, advogado do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, onde houve protestos de demitidos.

Ao rejeitar os termos apresentados pelo MPT, a Embraer alegou que iria esperar pela audiência da próxima quinta-feira, no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de Campinas, onde corre um processo sobre o caso. Semana passada, o presidente do tribunal concedeu liminar suspendendo as demissões e determinou que a Embraer apresente documentos contábeis que comprovem a necessidade dos cortes. Na ação no TRT, movida pelo sindicato, é pedida a anulação das demissões.

- A Embraer mais uma vez, agora diante do Ministério Público, mostrou que despreza a negociação, mesmo em caso de demissão coletiva - disse o secretário-geral do sindicato, Luiz Carlos Prates, o Mancha.

O sindicato faz hoje de manhã nova assembléia com os empregados demitidos. À tarde uma caravana partirá de São José dos Campos, onde fica a sede da Embraer, rumo a Brasília para pressionar o presidente Lula a intervir no caso.

Lula disse ontem que a aviação regional tem um problema com a Embraer e que o governo vai promover uma discussão sobre o tema no país. Para Lula, o Brasil não pode sequer reclamar que os estrangeiros suspendam as encomendas feitas à empresa nacional, já que as companhias aéreas brasileiras nunca encomendam aviões da Embraer. A crítica foi feita durante entrevista coletiva na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), depois de encontro com o primeiro-ministro da Holanda, Jan Peter Balkende.

- À medida que suas encomendas são suspensas, a empresa tem de dispensar. As críticas que eu tinha de fazer à empresa eu já fiz. Agora, precisamos resolver um problema da aviação regional no Brasil para ver se podemos comprar aviões da Embraer - disse.

Lula diz que demissões foram "uma anomalia"

Mais cedo, em seu programa semanal de rádio "Café com o Presidente", o presidente classificou como "quase uma anomalia" a decisão da Embraer de cortar em 20% o número de empregados. Ele admitiu que os números do mercado de trabalho brasileiro em fevereiro serão ruins. Já na Fiesp, Lula lembrou que 90% da produção da Embraer é voltada para o mercado exterior e que, por isso, o caso das demissões na empresa é "diferente" do panorama de desemprego no país.

- É um desafio para nós, brasileiros, pensar em como utilizar os aviões da Embraer em voos regionais. Porque não podemos nem nos queixar dos países estrangeiros que suspenderam o pedido porque as empresas brasileiras não fazem pedido a Embraer. Para um leigo, é muito difícil entender por que utilizamos avião da Boeing e Airbus e não da Embraer.

Já o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, disse ontem que espera bom senso da Embraer na audiência de conciliação marcada pela Justiça do Trabalho na próxima quinta-feira:

- Temos que ter capacidade de diálogo, de verificarmos mecanismos mais eficientes que evitem demissões, como algumas empresas fizeram em momentos de crises - disse Lupi.

COLABOROU Catarina Alencastro

(*) Enviado especial

oglobo.com.br/economia