Título: Embaixador relata os momentos de tensão
Autor:
Fonte: O Globo, 03/03/2009, O Mundo, p. 28

Lula protesta contra assassinato e diz que Brasil não pode aceitar este tipo de ataque.

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O embaixador do Brasil na Guiné-Bissau, Jorge Geraldo Kadri, acordou ontem de madrugada com o barulho de explosões de morteiros, tiros de bazuca, metralhadora e pistola. Eram 4h30m no horário local (1h30m em Brasília). Naquele momento, a 150 metros de sua residência, o presidente João Bernardo "Nino" Vieira era assassinado por militares.

- Acordamos sobressaltados. O dia transcorreu sob muita expectativa e tensão. Os assassinatos brutais chocaram a nação e os parceiros da Guiné-Bissau - disse o diplomata brasileiro ao GLOBO, por telefone, referindo-se também à morte do chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general Tagmé Na Waié, num atentado a bomba.

Cerca de 250 brasileiros vivem no país

O embaixador contou que o comércio na capital, Bissau, fechou as portas e a população permaneceu em casa. Nas ruas, eram vistos apenas veículos militares, da polícia, de diplomatas e ambulâncias. Cerca de 250 brasileiros vivem no país, sendo 70 na capital. A maioria são padres, pastores e freiras:

- Sugeri que permaneçam em casa pelo menos hoje (ontem). Ainda não há segurança suficiente.

O embaixador disse que, apesar dos dois assassinatos, não estava configurado um golpe de Estado. Num encontro com o governo, militares teriam manifestado sua intenção de obedecer à Constituição.

Pela manhã, Kadri recebeu telefonema do presidente Lula, que conhecia Nino Vieira e lamentou sua morte. Em nota, o Itamaraty condenou os homicídios. "O governo brasileiro manifesta seu mais forte repúdio a esses atos de violência, que atentam contra as instituições bissau-guineenses. O Brasil está em coordenação estreita com os demais países-membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), a fim de proceder a uma análise conjunta da situação e de propiciar o apoio necessário para a normalização do quadro interno na Guiné-Bissau", diz o texto.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou seu protesto em um discurso na Fiesp, em São Paulo. Ao lado do primeiro-ministro da Holanda, Jan Peter Balkenende, Lula interrompeu seu raciocínio sobre as relações bilaterais entre os dois países para lamentar a morte de Vieira e do comandante das Forças Armadas do país.

- Eu acho que nós, aqui neste plenário, não podemos nos calar diante de mais um atentado contra uma democracia incipiente que estava se construindo. Esse tipo de comportamento nós não podemos aceitar. Daí porque o meu protesto contra os acontecimentos de Guiné-Bissau - disse Lula.

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