Título: Renan afasta Jarbas da CCJ e manobra em favor de Collor
Autor:
Fonte: O Globo, 04/03/2009, O País, p. 3

Líder substitui senadores para tentar eleger seu antigo aliado em comissão.

Oex-presidente do Senado e novo líder da bancada do PMDB, Renan Calheiros (AL), que há pouco mais de um ano renunciou ao cargo de presidente da Casa para preservar o mandato de senador, se empenhou pessoalmente nos últimos dias para garantir hoje a eleição do ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL) para o comando da Comissão de Infraestrutura. Para derrotar a petista Ideli Salvatti (SC), Renan designou para a comissão sua mais fiel tropa de choque - os senadores Wellington Salgado (MG), Gilvam Borges (SE) e Almeida Lima (SE) - em substituição a nomes de peso do partido, como Romero Jucá (RR) e Valdir Raupp (RO), que haviam lhe comunicado a intenção de votar na candidata do PT.

A posição de Renan em defesa do candidato do PTB reedita, de certa forma, o papel que ele exerceu por pelo menos oito meses em 1990, como líder do governo Collor, com o qual rompeu depois de perder uma eleição para o governo de Alagoas, bem antes de o ex-presidente ser afastado do cargo, após um processo de impeachment.

Seu comportamento, na troca de senadores, causou desconforto entre seus liderados no PMDB e críticas, especialmente do PT, que já admite que será difícil derrotar Collor - este sequer apareceu ontem no plenário do Senado enquanto se discutia o assunto.

Ao designar os representantes do PMDB para as 11 comissões permanentes do Senado, Renan aproveitou também para retaliar o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), que, recentemente, acusou seu partido de ter se especializado em corrupção, classificou a eleição de Sarney um retrocesso e acrescentou que o atual líder da bancada peemedebista não tem condição moral ou política nem mesmo para ser senador.

Dornelles vai ocupar vaga de Jarbas

Renan substituiu Jarbas pelo senador Francisco Dornelles (PP-RJ) na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), na qual o peemedebista atuava como titular desde que assumiu seu mandato, há dois anos.

- Eu mudei a composição de todas as comissões, a partir da opção que cada senador da bancada apresentou. O Jarbas não reivindicou nada, mas ele participará de outras comissões importantes - justificou Renan.

Ideli cobrou explicações do líder

Visivelmente abalada com a manobra de Renan, Ideli Salvatti chegou a cobrar satisfações do líder peemedebista numa rápida conversa no plenário. Renan argumentou que não poderia deixar de cumprir um compromisso assumido com a bancada do PTB, que apoiou a candidatura de Sarney. Explicou ainda que, depois de o PT decidir apoiar o PSDB no confronto que o PTB teria com os tucanos pelo comando da Comissão de Relações Exteriores (CRE), a opção foi garantir a de Infraestrutura para Collor.

Nessa nova aliança com Collor, Renan não está levando em consideração rumores de que o ex-presidente deverá se licenciar mais uma vez do mandato a partir do segundo semestre, assim como fez, por duas vezes, durante os seus dois primeiros anos de Senado.

- O PMDB não gostaria que houvesse disputa pelo respeito que tem pela senadora Ideli, mas não há outro caminho - alegou Renan, acrescentando que o PMDB chegou a oferecer como alternativa para Ideli a vaga da senadora Roseana Sarney (PMDB-MA) na liderança do governo no Congresso.

- Todo esse movimento do Renan é para satisfazer o desejo de Collor - alfinetou o líder do PDT, senador Osmar Dias (PR), que também prepara seu partido para uma outra disputa patrocinada pelo PMDB pelo comando da Comissão de Direitos Humanos, que deverá ser travada com o PR.

Assim como fez na Comissão de Infraestrutura, Renan designou parte de sua tropa de choque para a Comissão de Direitos Humanos para garantir a eleição do senador Magno Malta (PR-ES) para o comando do colegiado, embora, pelo critério da proporcionalidade, a vaga possa ser reivindicada pelo PDT. O senador Cristovam Buarque (PDT-DF), candidato ao cargo, admitia ter poucas chances de vitória com a manobra do PMDB.

- Nosso risco é de perder a disputa por nove votos a oito - reconheceu Cristovam.