Título: Com elogios, Sarney afasta diretor do Senado
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 04/03/2009, O País, p. 8

CORRUPÇÃO EM DEBATE: Mesmo afastado, funcionário indica braço direito para a ocupar a vaga na diretoria da Casa.

Pressionado, presidente da Casa negociou saída de Agaciel, suspeito de ocultar mansão avaliada em R$5 milhões

BRASÍLIA. Sob pressão, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), anunciou ontem a demissão do diretor-geral da Casa, Agaciel Maia, que ocupava o cargo desde 1995 por indicação sua. Com a decisão, Sarney espera ter debelado de forma definitiva uma nova crise na instituição depois da denúncia de que Agaciel teria ocultado de seu patrimônio uma mansão avaliada em R$5 milhões. Sarney resolveu agir antes de ser cobrado publicamente por um grupo de cinco líderes partidários - de PT, PSDB, PSB, PDT e PSOL -, o que aconteceria ontem. Mesmo assim, elogiou a capacidade e a eficiência de Agaciel, nomeado pelo próprio Sarney para o cargo.

A demissão de Agaciel começou a ser negociada no início da noite de segunda-feira. Depois de assistir ao noticiário da televisão e perceber o aumento da pressão pelo afastamento do diretor-geral, Sarney telefonou para Agaciel e comunicou que sua situação se tornara insustentável, porque já começava a atingir a imagem do Senado.

As conversas se estenderam por mais algumas horas, quando o diretor chegou a propor um afastamento temporário do cargo. Mas, pouco depois da meia-noite, Sarney estava totalmente decidido. Ele foi taxativo ao argumentar que uma saída temporária não seria suficiente para contornar a crise. Resignado, Agaciel concordou, então, em apresentar seu pedido de demissão logo nas primeiras horas da manhã.

"Doutor Agaciel é um dos funcionários mais eficientes"

Sem conseguir disfarçar o nervosismo na entrevista em que comunicou a demissão de Agaciel, Sarney lamentou o desfecho do episódio e fez questão de elogiar o funcionário de carreira da Casa:

- Lamento que esse episódio tenha chegado a esse resultado. Uma vez que o doutor Agaciel é um dos funcionários mais antigos, melhores e mais eficientes, que prestaram relevantes serviços para esta Casa. Mas reconheço que a imagem desta Casa não pode ser prejudicada por nenhum de nós. Discutimos e achamos que o afastamento transitório manteria o problema latente. Essa é uma solução definitiva - afirmou Sarney.

Antes de deixar o cargo, Agaciel apresentou pelo menos dois nomes para que Sarney escolhesse como alternativa para substituí-lo: o de seu adjunto, Alexandre Gazineo, considerado seu braço direito, e o do diretor de Recursos Humanos do Senado, João Carlos Zoghbi. O presidente do Senado ficou com a primeira opção, mas Gazineo assumirá o cargo interinamente.

Entre os cotados para ocupar o cargo mais cobiçado do Senado, que administra um orçamento anual de R$2,7 bilhões, está o jornalista Fernando César Mesquita, amigo e auxiliar de longa data de Sarney. Na disputa pela vaga estariam ainda dois consultores da Casa, Bruno Dantas e Fábio Gondim Pereira da Costa. Já Agaciel, que é funcionário de carreira da Gráfica do Senado, terá dez dias úteis para conseguir nova função na Casa.

O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), que vinha defendendo a substituição do diretor-geral do Senado desde a eleição de Sarney, não se deu por satisfeito com a demissão. Ele defendeu ontem que seja realizada uma sindicância interna para a apurar a denúncia contra o ex-diretor da Casa, e pediu investigação também da Polícia Federal e da Receita Federal, além daquela pedida por Sarney ao Tribunal de Contas da União (TCU).

- O presidente Sarney não agiu, mas reagiu. O Senado não vai bem. Uma investigação só no TCU me cheira a escapismo, falta de vontade de levar adiante uma investigação mais profunda - disparou Virgílio.

A maioria da Casa, porém, comemorou a rapidez da ação de Sarney e elogiou a decisão de Agaciel de pedir demissão.

- Agaciel prestou bons serviços para a Casa, mas estava na hora de renovar. Diante do que surgiu, sua situação ficou muito difícil. Acho que ele tomou a decisão acertada - disse o ex-presidente Garibaldi Alves (PMDB-RN).

- Achei ótima a decisão. Agaciel fez muito bem, porque isso não ia parar - emendou Pedro Simon (PMDB-RS).

Antes de formalizar o pedido de demissão, Agaciel declarou que estaria sendo vítima de uma disputa política, na qual não adiantaria ele apresentar provas em sua defesa, porque já teria sido condenado previamente.

- Não quero ser a bola da vez. Se existe um pedido de afastamento para apuração de calúnias, eu gostaria de ir além. Não serei empecilho, até porque existe coloração política em cima disso, e, por mais que eu mostre que sou honesto e probo, estou condenado - desabafou Agaciel, que hoje deverá receber uma homenagem de parte dos funcionários da Casa.