Título: Governo aumenta pressão contra CPI
Autor: Camarotti, Gerson; Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 04/03/2009, O País, p. 10

Ministro procura PMDB e tenta barrar comissão para investigar fundos, mas oposição incentiva.

BRASÍLIA. O Palácio do Planalto reforçou ontem a operação para evitar a criação da CPI dos Fundos de Pensão, proposta pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e conseguiu dos partidos aliados o compromisso de não assinar o pedido. No fim da tarde, na reunião de coordenação política do governo, já se acreditava que a ofensiva pela criação da CPI começava a perder força. Mas a oposição tenta dar fôlego à criação da CPI com as assinaturas necessárias.

Antes da reunião no Planalto, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, procurou o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN). Também telefonou nos últimos dias para Cunha.

- É claro que a instalação da comissão atrapalha mais do que ajuda a esclarecer fatos. Ainda mais num ano em que a questão econômica estará presente no Congresso. Conversei com os líderes da base. Não é por aí que a coisa será resolvida. Conversei com o PMDB. Disse que isso iria expor o partido, pois a CPI poderia parecer um ressentimento - disse Múcio.

Está claro para o governo que parte da bancada do PMDB tenta instalar a CPI como retaliação por não ter conseguido mudar o comando da Fundação Real Grandeza, fundo de pensão dos funcionários de Furnas.

Cunha diz que já tem 70 assinaturas

Hoje, Múcio almoçará com os líderes de partidos aliados na Câmara, onde fará um apelo para que a CPI seja evitada. Já os líderes do DEM e do PSDB incentivavam suas bancadas a assinar o requerimento. Cunha começou a recolher ontem as 171 assinaturas necessárias e, no início da noite, disse já ter 70.

- Embora a motivação possa não ser nobre, temos a obrigação de apoiar a finalidade da CPI - disse o vice-líder do DEM, José Carlos Aleluia (BA).

O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, que na semana passada acusou de "bandidagem" a diretoria da Fundação Real Grandeza, e estava disposta a alterá-la, não fosse a intervenção do presidente Lula, preferiu não entrar na polêmica:

- Não inspirei e nem pedi (a CPI). É uma iniciativa do Parlamento - afirmou.

O presidente do fundo de pensão de Furnas, Sérgio Wilson Fontes, disse não temer a investigação:

- Temos fiscalização anual da Secretaria de Previdência Complementar. A diretoria tem a confiança total dos funcionários ativos e inativos, que são os donos do dinheiro. Pergunte aos nossos filiados e à nossa secretaria se tem fundo mais transparente do que o nosso.

O líder do PMDB admitiu que o tema não é consenso na bancada do partido, mas defendeu o direito de Cunha:

- A CPI não é uma obsessão. Agora, ela também não é para servir a oposição ou atingir o governo. O objetivo é esclarecer.