Título: Collor volta com Renan e Sarney
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 05/03/2009, O País, p. 3

O CONGRESSO EXPÕE SUAS ENTRANHAS

Ex-presidente derrota o PT e assume comissão; ministro diz que ele ajudará Dilma

Com o apoio da tropa de choque comandada pelo líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), ex-líder de seu governo, o ex-presidente e senador Fernando Collor (PTB-AL) derrotou ontem, por 13 votos a dez, a petista Ideli Salvatti (SC) na disputa pela presidência da Comissão de Infraestrutura. O resultado aumenta a tensão entre PT e PMDB, que já se enfrentaram na eleição pela presidência do Senado e divergiram na Câmara sobre a proposta de criação da CPI dos Fundos de Pensão.

Inconformado com a quebra do princípio da proporcionalidade, que costuma reger as eleições para as comissões do Senado, o líder do PT, Aloizio Mercadante (SP), classificou de espúria a aliança entre PMDB, PTB e DEM para eleger Collor, a despeito de dois desses partidos integrarem hoje a base do governo Lula:

- Foi uma aliança espúria que interferiu no direito legítimo e democrático do PT de presidir essa comissão.

No melhor estilo "bateu, levou", que marcou sua curta trajetória como presidente da República antes do impeachment, Collor reagiu:

- Eu repilo (expressão usada por ele quando presidente ao reagir às acusações da CPI do PC). Espúria, ele que vá procurar para saber onde achar. Foi um acordo inteiramente aberto, do qual todos participaram.

Ao longo da sessão, Collor já havia reagido, desta vez em tom emocional, a outra provocação. O presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), cobrou dele uma presença mais assídua na Casa - referência às duas licenças tiradas nos dois primeiros anos de mandato:

- Desejo que o presidente Collor, se eleito, não peça mais nenhuma licença e que esteja realmente aqui nos próximos dois anos, já que nos dois últimos ele não apareceu muito.

- Já sou bastante experimentado e sofrido... - engasgou Collor - para ouvir ironias desse tipo.

Coube à tropa de choque comandada por Renan defender o partido, que apoiou Collor para pagar compromisso assumido para eleger José Sarney (PMDB-AP) presidente do Senado. Após a vitória, Collor disse que volta ao poder "com os pés no chão".

Senador responde a duas ações no STF

O ministro das Relações Institucionais, José Múcio, que na véspera da disputa sugeriu que Ideli desistisse, elogiou eleição de Collor, agora seu colega de partido:

- Fernando Collor é um homem de experiência. Portanto, depois dos episódios que viveu, que sofreu, chega em boa hora a sua eleição. Trabalhamos para que não houvesse disputa. A senadora Ideli foi uma guerreira na defesa do governo. Houve eleição. Temos que respeitar a vontade da maioria. Essa é uma comissão que estará sempre afinada com a ministra Dilma Rousseff, por causa do PAC. Tenho certeza que os dois vão se ajudar.

Sentindo-se traída, Ideli desabafou:

- Não só não se cumpriu a regra, a lei e a praxe da Casa, como também se viu que há um elemento de desrespeito e desconsideração. E na política, quando não se respeita a regra, quando não há respeito e consideração, fica uma fratura exposta, pois se expõe de forma aviltante o jogo de interesses.

Inocentado pelo Supremo Tribunal Federal, em 1993, no processo que o acusava de envolvimento com o chamado esquema PC, Collor ainda responde a duas ações penais no tribunal. Numa delas, é acusado de crime de sonegação fiscal. Na outra, foi denunciado pelos crimes de peculato, corrupção passiva e falsidade ideológica. Esta ação está em fase final de tramitação. Há acusação de que dinheiro arrecadado junto a empresas de publicidade era usado para pagar despesas pessoais de Collor.

COLABOROU: Gerson Camarotti