Título: Vaticano: Igreja não pode trair sua missão de defender a vida
Autor: Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 07/03/2009, O País, p. 3

CNBB defende arcebispo que excomungou mãe e médicos e pede punição ao agressor, mas na Justiça.

ROMA e RECIFE. O Vaticano e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) defenderam ontem a decisão da Igreja Católica em Pernambuco de condenar o aborto legal realizado na menina de 9 anos que foi estuprada pelo padrasto e engravidou. O chefe do Conselho Pontifício do Vaticano para a Família, Gianfranco Grieco, disse ao jornal italiano "Corrieri della Siera" que foi correta a excomunhão dos que fizeram o aborto.

- É um tema muito, muito delicado, mas a Igreja não pode trair sua missão de defender a vida desde a sua concepção até o seu término natural, ainda que diante de um drama humano tão forte como o da violência a uma menina - declarou.

Em nota, a CNBB se diz perplexa com o crime e defende punição, na Justiça, ao agressor.

"Repudiamos veementemente este ato insano e defendemos a rigorosa apuração dos fatos, e que o culpado seja devidamente punido, de acordo com a Justiça. Lamentamos que não seja um caso isolado. Preocupa-nos o crescente número de atentados à vida de crianças, vítimas de abuso sexual. A Igreja se faz solidária com esta e todas as crianças vítimas de tamanha brutalidade, bem como com as famílias. A Igreja, em fidelidade ao Evangelho, se coloca sempre a favor da vida, numa condenação inequívoca de toda violência que fere a dignidade da pessoa humana."

A nota, enviada de Roma, onde está a cúpula da CNBB, é assinada pelo presidente, dom Geraldo Lyrio Rocha, arcebispo de Mariana; pelo vice, dom Luiz Soares Vieira, arcebispo de Manaus; e pelo secretário-geral, dom Dimas Lara Barbosa, bispo auxiliar do Rio. Eles reiteram outra manifestação, dos bispos do Regional Nordeste 2 da CNBB, que ontem também distribuiu nota em defesa do arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho: "Nem sempre se pode identificar o que está amparado por leis com princípios éticos e valores morais. Para nós, sempre terá procedência o mandamento do Senhor: não matarás".

"Assumimos seu pronunciamento e com eles reafirmamos: "Diante da complexidade do caso, lamentamos que não tenha sido enfrentado com a serenidade, tranquilidade e o tempo necessário que a situação exigia. Além disso, não concordamos com o desfecho final de eliminar a vida de seres humanos indefesos"". Os textos não citam a excomunhão da mãe da vítima e dos médicos.

Com agências internacionais