Título: Mais um plano para a saúde
Autor: Costa, Célia; Merola, Ediane
Fonte: O Globo, 07/03/2009, Rio, p. 14

Prefeitura e União contratarão de 300 a 400 médicos para as urgências hospitalares.

Acidade ganhou ontem mais um plano de emergência para resolver um problema crônico de saúde: o atendimento nas urgências dos hospitais municipais. O prefeito Eduardo Paes e o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, anunciaram o fim, até 29 de abril, dos contratos de 250 médicos cooperativados espalhados pelas emergências do município, e a contratação de 300 a 400 médicos, por um processo seletivo público, coordenado pela a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), para trabalhar nas emergências. Para o secretário municipal de Saúde e Defesa Civil, Hans Dohmann, a diferença entre esse plano e tantos outros já anunciados por administrações anteriores é que, desta vez, haverá uma reestruturação do modelo de gestão de saúde, desde o gabinete do secretário a melhorias administrativas dentro das unidades. O plano de emergência terá duração de um ano, podendo ser prorrogado por mais um ano, até que um plano final seja implantado.

O plano terá um custo de R$36 milhões, pagos pela prefeitura e pelo governo federal; e, para conseguir médicos candidatos, vai oferecer um salário líquido de R$3 mil, dependendo da avaliação de desempenho de cada profissional. Atualmente, um médico do município ganha R$1.800. Para o presidente do Sindicato dos Médicos do Rio, Jorge Darze, a quantia oferecida não vai garantir a fixação dos médicos. Segundo Darze, o piso da categoria, estipulado pela Federação Nacional dos Médicos, é R$8.300:

- É um projeto fadado ao insucesso. Por esse valor, nem o estado está conseguindo médicos. O pior é que é a mesma administração que paga valores superiores a outras carreiras, como para auditores (R$18 mil) e defensores públicos.

Rede tem déficit de 387 médicos

Com a contratação, a prefeitura pretende manter pelo menos 30 profissionais de saúde por plantão nas emergências dos hospitais Miguel Couto, Souza Aguiar, Lourenço Jorge e Salgado Filho.

- O processo de seleção começa agora em março, e será uma seleção pública, com transparência, e os médicos cooperativados que apresentaram um bom desempenho terão prioridade. Os salários serão pagos pela prefeitura e pelo ministério. E a parceria com a Fiocruz permitirá o aproveitamento dos modelos e das práticas da Escola Nacional de Saúde Pública - disse o secretário Hans Dohmann.

O déficit da rede hoje é de 387 médicos, e a meta com as contratações é atingir a marca de 980 profissionais. Hans Dohmann acredita que esse plano tem tudo para dar certo porque resolverá a gestão da secretaria, considerado por ele "bastante ineficiente", e das unidades de saúde:

- A lista do que foi feito é muito menor que a do que não foi feito. O que sempre se fez foi remendo. A solução definitiva passa por um novo modelo de gestão de saúde, e o plano tem uma perspectiva de longo prazo, que avança nessa questão. Estou há muitos anos no setor e nunca vi uma prefeitura fazer isso.

Para o ministro José Gomes Temporão, o modelo apresentado tem tudo para dar certo:

- Vamos fazer mais 20 UPAs, mas chamo a atenção que, sem o fortalecimento da rede de atenção primária, através do programa Saúde da Família, a solução vai ser precária. As filas demonstram isso. O próximo passo é esse. Em parceria com a prefeitura, melhorar o atendimento não só nas emergências, mas também ampliar o programa Saúde da Família.

O plano prevê, ainda, melhorias na atenção básica de saúde, mas a longo prazo. Segundo o prefeito, apenas 3,3% da população carioca são cobertos pelo programa Saúde da Família:

- É um absurdo, ainda mais se comparado com Belo Horizonte, onde a taxa é de 70%, e São Paulo, de 40%. O grande desafio é avançar nessa atenção primária, e já temos recursos para isso; mas as emergências, há pelo menos cinco anos, não têm suas equipes completas.