Título: Obama porá fim na segunda-feira a restrições a célula-tronco de embrião
Autor: Stein, Rob
Fonte: O Globo, 07/03/2009, O Mundo, p. 27

Presidente vai eliminar veto a pesquisas imposto por Bush em 2001.

Rob Stein

WASHINGTON. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, planeja assinar, na segunda-feira, uma ordem executiva levantando as restrições ao financiamento federal às pesquisas com células-tronco embrionárias humanas, de acordo com fontes ligadas ao tema.

Embora o texto exato da ordem não tenha sido divulgado, a Casa Branca organiza uma cerimônia para as 11h com o objetivo de assinar o documento, revertendo um dos mais controversos passos dados pelo ex-presidente George W. Bush e cumprindo uma das primeiras promessas de campanha de Obama.

Há muito aguardada por cientistas e pacientes, mas condenada pela Igreja e por alguns grupos evangélicos, a medida permitirá que os Institutos Nacionais de Saúde passem a aceitar os pedidos de especialistas para estudar as centenas de linhagens de células desenvolvidas desde que as limitações surgiram - linhagens que, de acordo com cientistas, poderiam levar ao desenvolvimento de tratamentos para doenças graves.

Autoridades se limitaram a confirmar que "haverá um evento relacionado à célula-tronco na segunda". Mas um email enviado anteontem da Casa Branca sustenta que, durante a cerimônia, o presidente "assinará uma ordem executiva sobre células-tronco".

Proibição atrasou pesquisas de doenças

Fontes próximas ao tema informaram que a ordem levantará as restrições ao financiamento federal das pesquisas com células embrionárias impostas pelo governo anterior.

Como essas células-tronco são obtidas durante os primeiros estágios do embrião, elas são capazes de se transformar em todos os tecidos do organismo o que leva os cientistas a considerá-las fundamentais para o desenvolvimento de tratamentos para doenças como diabetes, Parkinson e Alzheimer, e também para curar lesões. Para obter as células, no entanto, os embriões são destruídos.

O presidente Bush impôs as restrições em 9 de agosto de 2001, limitando o financiamento federal a estudos feitos com as únicas 21 linhagens celulares já existentes. O objetivo era impedir que dinheiro federal acabasse por encorajar a destruição de embriões.

A limitação recebeu o apoio da Igreja e de grupos que consideram a destruição de embriões imoral, mas, desde então, vem sendo denunciada por muitos cientistas como um grave entrave ao avanço dos estudos num dos mais promissores campos da pesquisa biomédica.

As 21 linhagens de células com as quais os cientistas podiam trabalhar no governo Bush já são bem pouco representativas do que está sendo feito hoje, segundo especialistas. Muitas novas linhagens já foram desenvolvidas.

Pelo longo apoio de Obama à pesquisa e suas repetidas promessas de levantar as restrições, acreditava-se que a medida seria tomada logo na primeira semana de governo, quando ele lançou uma série de ordens executivas para fechar a prisão de Guantánamo, para levantar restrições ao financiamento de grupos que apoiam o aborto, entre outras promessas de campanha.

Chegou-se a especular que o presidente poderia estar reavaliando sua posição sobre o assunto. Alguns opositores das pesquisas com células embrionárias argumentam que, com o avanço das tecnologias, já é possível, por exemplo, obter as cobiçadas células sem a destruição de embriões. Embora isso não seja feito ainda em larga escala, seria um caminho a ser seguido.

Ao que tudo indica, no entanto, Obama assinará uma ordem bastante objetiva, apenas suspendendo as restrições. Os Institutos de Saúde deverão regulamentar o restante.