Título: Arcebispo aconselha Lula a consultar teólogo
Autor: Weber, Demétrio; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 08/03/2009, O País, p. 13

Dom José Cardoso diz que perdão aos envolvidos em aborto de menina é possível, mas só com arrependimento.

RECIFE. O arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, aconselhou ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a procurar a assessoria de um teólogo para se habilitar a falar de temas ligados à religião. Sobrinho, que excomungou os envolvidos na interrupção da gravidez de gêmeos de uma menina de 9 anos, estuprada pelo padrasto, reagiu à declaração de Lula de que "a medicina está mais correta do que a Igreja".

- Se o presidente da República deseja fazer um pronunciamento sobre um tema teológico, eu sugeriria que ele primeiro tivesse ajuda de seus assessores que conheçam a doutrina da Igreja Católica - disse o arcebispo durante missa da Campanha da Fraternidade na Basílica do Carmo, cujo tema é Fraternidade e Segurança.

Dom José afirmou que a mãe da menina, que autorizou, e os médicos, que realizaram o aborto, podem ser perdoados, desde que se arrependam:

- Não existe pecado sem perdão, mesmo para aquele que cometeu aborto. Para receber o perdão, é preciso arrepender-se, é preciso uma conversão.

A assessoria de imprensa do Palácio do Planalto informou ele não responderia às novas declarações de Dom José Cardoso.

O arcebispo de Maceió, Dom Antônio Muniz Fernandes, presidente da Regional Nordeste 2 da CNBB - que representa Pernambuco, Paraíba, Alagoas e Rio Grande do Norte -, também condenou o aborto:

- Um mal não pode justificar outro. Tanto o aborto quanto o estupro são crimes abomináveis. Mas nada justifica a destruição de uma vida.

Ele pôs em dúvida a avaliação de que a menina de 1,36 m de altura e 33 quilos correria risco de vida se a gravidez continuasse:

- Toda a gravidez não é de risco? A natureza se organiza para provocar aborto natural ou continuar essa gestação.

Em Roma, o presidente da Comissão Pontifícia para a América Latina, o cardeal Giovanni Battista Re, considerou justa a excomunhão. "É um caso penoso, mas o verdadeiro problema é que os dois gêmeos concebidos eram pessoas inocentes, tinham direito de viver", afirmou o cardeal em declarações publicadas ontem pelo jornal italiano "La Stampa".