Título: Em Brasília, Via Campesina quebra vidraças do Ministério da Agricultura
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 10/03/2009, O País, p. 4

Mulheres com rosto encoberto ficam 4h no prédio; ministro critica falta de foco.

BRASÍLIA. Num dia de protestos contra o agronegócio, mulheres ligadas à Via Campesina invadiram ontem o Ministério da Agricultura, quebraram vidraças da porta principal e permaneceram quatro horas no prédio. As manifestantes usavam lenços roxos para esconder o rosto, além de chapéus de movimentos como o MST.

A Via Campesina estima que cerca de 800 mulheres participaram do ato. Para a Polícia Militar, o número não passou de 300. Com cartazes e faixas, as militantes acusavam o ministério de estar a serviço de grandes ruralistas e latifundiários. Uma das faixas afirmava que o agronegócio é o parasita do Estado.

O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, que não estava no prédio na hora da invasão, minimizou a manifestação. Mas afirmou que as reivindicações estavam "fora de foco".

- A agricultura é movida por pequenos, médios e grandes agricultores. Os pequenos agricultores são parte do agronegócio. No Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná, os pequenos são maioria, fundamentais na produção de alimentos e no excedente, que vai para exportação. A agricultura familiar é moderna, usa tecnologia e está ligada a grandes cooperativas. E tem recebido, sim, créditos do governo federal.

Para Stephanes, o protesto foi pacífico e não impediu o trabalho normal dos servidores:

- Não quero dar muita dimensão a este fato. Foi um movimento pacífico, que não impediu o acesso dos funcionários. Um ato pacífico, exceto pelo vidro quebrado. Foi tranquilo.

O ministro contestou a pauta apresentada pela Via Campesina, que reivindicou mais recursos para a agricultura familiar. Stephanes argumentou que não há diferença entre agronegócio e pequenos agricultores e afirmou que as manifestantes deveriam procurar o ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel. O ministro disse manter boas relações com o colega, mas não deixou de dar uma estocada em Cassel, ao dizer que não entende por que a pequena agricultura não avança no Pará, onde há 180 mil assentados.

- Não se produz no Pará, e 180 mil não é pouca coisa. Talvez falte assistência técnica, ou é uma questão de mercado.