Título: IGP-DI recua 0,13% em fevereiro; queda de índices favorece inquilinos
Autor: Casemiro, Luciana
Fonte: O Globo, 10/03/2009, Economia, p. 18
Desde julho do ano passado, média dos IGPs caiu de 15% para 7,5%.
Ao que tudo indica, a pressão inflacionária não será problema para o brasileiro este ano. O Índice Geral de Preços- Disponibilidade Interna (IGP-DI) - que mede a variação de preços do primeiro ao último dia do mês - divulgado ontem, registrou deflação de 0,13% em fevereiro. No acumulado em 12 meses, a média dos IGPs (incluindo além do DI, o IGP-M, de Mercado, e o IGP-10, que mede do dia 10 de um mês ao 10 do outro) caiu à metade, de 15%, em julho de 2008, para 7,5% agora. E a tendência, dizem os economistas, é que continue caindo, favorecendo os inquilinos nas negociações dos contratos de aluguel.
- Esperava-se uma taxa baixa para o IGP-DI, mas não deflação. Os preços agrícolas, que haviam registrado alta nas primeiras semanas do mês, caíram. As secas, na Argentina e no Rio Grande do Sul, reduziram a produção de commodities, como soja, milho, trigo, mas também a demanda caiu - explica Salomão Quadros, acrescentando que o IGP-M de fevereiro já apontava a tendência de queda. - O índice já tinha sido menor do que o IGP-10, 0,20% contra 0,52%, mostrando uma desaceleração do índice, efeito do desaquecimento da economia mundial.
Índice de Preço ao Consumidor registra alta
Na avaliação do economista Luiz Roberto Cunha, da PUC, até o fim do primeiro semestre, a média dos IGPs deve estar em cerca de 4%, quase um quarto do que estava em seu pico, em julho de 2008. O índice, diz o professor, é um dos indicadores que pode balizar a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que se reúne hoje e amanhã, sobre o corte na Taxa Selic (juro básico da economia):
- Não acredito que o Banco Central faça movimentos muito bruscos, até porque isso poderia sinalizar para o mercado externo que alguma coisa aconteceu por aqui e que o Brasil estaria desesperado. Mas um corte de 1,5 ponto percentual, depois mais um ponto seria esperado. A tendência é que os cortes se prolonguem por mais tempo.
Cunha destaca que a queda da inflação é efeito da crise:
- Ainda temos uma área de resistência na nossa inflação, de inércia. Cerca de 40% do IPCA são preços contratados, que não vão cair. É o caso de passagens de ônibus, salários de empregada doméstica, educação... Apesar disso, o reflexo da queda da atividade econômica, reflexo da crise mundial, empurra a inflação para baixo.
Se os IGPs estão caindo, o Índice de Preços ao Consumidor ainda resiste. O IPC-S, medido semanalmente, registrou alta de 0,35%. Segundo os especialistas, os produtos in natura são os grandes responsáveis por esse aumento:
- O hortifruti tem um peso muito alto no IPC, por isso esse índice é volátil. A alta pode ser desprezada. Para o Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) de fevereiro, que será divulgado quarta-feira (amanhã), estimo uma taxa em torno de 0,50%, por causa do reajuste de educação que incide nesse mês. Excluída a educação, a inflação medida por esse índice seria de uns 0,20% - estima Cunha.
Inquilinos já conseguem reajuste zero no aluguel
Salomão Quadros diz que é natural que o índice de preços ao consumidor demore mais a cair. No acumulado de 12 meses, o IPC chegou a acelerar em relação a dezembro 6,15% contra 6,07%.
- O preço dos alimentos, como óleo e carne, já estão caindo para o varejo. A questão é que os serviços têm um forte peso no IPC. Oficina, cabeleireiro e escolas são serviços que não dependem de crédito, apenas da capacidade de pagamento das pessoas. E o mercado de trabalho nem de longe reproduz a situação da produção industrial. Ou seja, não há uma queda significativa da renda. A deterioração do emprego, que deve acontecer, também terá impacto na redução desses índices.
A situação passou a faca e o queijo para a mão dos inquilinos. Isto porque a grande maioria dos contratos é reajustada tendo como base o IGP-M. Quem sofreu ano passado reajustes na casa dos dois dígitos já consegue negociar sem qualquer alta significativa. É o caso de Cristiano Santos, morador do Recreio, que no reajuste do contrato, em fevereiro, arredondou o valor do aluguel, em R$3, de R$1.347 para R$1.350.
- O proprietário está consciente da situação mundial. Se eu saísse, não seria fácil conseguir outro inquilino nem alugar com valor mais alto do que pago.
Alfredo Lopes, diretor da administradora Protel, diz que o cenário não deixa outra alternativa a não ser a negociação:
- Há categoria negociando redução de salário, desemprego... Os proprietários estão muito mais suscetíveis a acordo.
Pedro Carsalade, presidente da Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis diz, no entanto, que ainda há pressão de demanda no setor, o que ajuda a segurar os preços:
- Não há muita gente investindo em imóveis para locação. E as construtoras pisaram no freio nos lançamentos.