Título: Para manter aliança com PT, Cabral acena com mais espaço no governo
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 11/03/2009, O País, p. 4

Estratégia do governador é neutralizar Lindberg; almoço ontem discutiu 2010.

A mesa de negociações do PT com o PMDB para 2010 no estado foi posta ontem, num almoço no Palácio Laranjeiras. No cardápio, a receita para manter a aliança nas próximas eleições: a ampliação do espaço do PT no governo Sérgio Cabral e a tentativa de neutralizar a pré-candidatura do prefeito petista de Nova Iguaçu, Lindberg Faria, à sucessão do governador. A conversa reuniu, de um lado, os presidentes nacional e estadual do PT, Ricardo Berzoini e Alberto Cantalice, e o líder do partido na Assembleia Legislativa, Rodrigo Neves, e, de outro, o governador, o vice, Luiz Fernando Pezão, e o presidente da Alerj, Jorge Picciani.

Cabral quer, e já, definição do PT sobre a aliança. Os petistas estão divididos. Os aliancistas defendem o que está sendo chamado de "coalizão programática" com o governo. Em suma, a ampliação do espaço do partido na gestão Cabral, com mais secretarias e mais influência nos programas de governo e nas decisões estratégicas. Há ainda os que defendem a candidatura própria de Lindberg, o que vem causando irritação ao governador, expressa com clareza no almoço de ontem.

- Foi uma reunião muito boa. As primeiras tratativas para 2010 - disse o vice-governador, Luiz Fernando Pezão.

Cabral quer solução até o próximo mês

Cabral, que acena com a ampliação do espaço do PT em sua gestão, pede ao partido uma posição até o próximo mês. Tenta evitar o crescimento, no partido e nas ruas, do nome de Lindberg, com quem recusa diálogo até para composição de chapa. Críticas recentes do prefeito de Nova Iguaçu à sua administração sepultaram as chances de diálogo entre os dois. Em entrevista ao GLOBO, em janeiro, Lindberg afirmou que Cabral "é a ausência total em toda a região metropolitana e no interior".

A aproximação entre Lindberg e o ex-governador Anthony Garotinho, presidente regional do PMDB e desafeto de Cabral, também incomodou o governador. O prefeito de Nova Iguaçu mantém o projeto de se lançar candidato pelo PT.

Na noite de anteontem, Berzoini reuniu os dez prefeitos, vereadores e ministros do PT, no Sindicato dos Administradores, no Centro do Rio, para uma discussão sobre os rumos do partido no estado. Uma das decisões foi a elaboração de um diagnóstico sobre o governo Cabral e sobre a participação no governo do PMDB - hoje com duas secretarias petistas.

Foi decidida ainda a visita da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, ao Rio, até o fim de abril. Ela terá um encontro com os petistas. A divisão do partido ficou evidente no encontro. Lindberg chegou a reclamar publicamente do monopólio que Cabral estaria fazendo das atenções do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas visitas ao Rio.

- É inegável a importância da parceria do governador com o presidente Lula e da contribuição positiva dele na aliança nacional. Essa é a compreensão majoritária do PT. Mas é também inegável o crescimento do PT na Baixada Fluminense. Esse é um debate intenso no partido - disse Rodrigo Neves.

O cenário nacional também preocupa o PT e alimenta a dúvida em torno da manutenção da aliança. Não há certeza, entre os petistas, de que o PMDB, em 2010, estará unido em torno da candidatura de Dilma. O medo é de que, abrindo mão de Lindberg, os petistas fiquem reféns das marés peemedebistas.