Título: Lula não vai discutir guarda de menino durante encontro com Barack Obama
Autor: Camarotti, Gerson; Autran, Paula
Fonte: O Globo, 11/03/2009, Rio, p. 15

Segundo Marco Aurélio Garcia, o assunto deve ser tratado no plano judicial

BRASÍLIA E RIO. O governo brasileiro decidiu fazer um discurso preventivo para evitar constrangimentos no primeiro encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente americano, Barack Obama, que ocorrerá sábado, em Washington. A ordem é evitar um tema polêmico e que tem mobilizado grande parte da mídia americana: a disputa pela guarda do filho do americano David Goldman com a brasileira Bruna Bianchi, morta ano passado. O padrasto, o advogado brasileiro João Paulo Lins e Silva, que está com o garoto, de 8 anos, quer a guarda definitiva.

Segundo o assessor especial da Presidência da República para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, o presidente Lula não pretende tocar no caso do menino. Mas, caso Obama o faça, Lula dirá que o assunto deve ser tratado na esfera judicial. A diplomacia brasileira quer evitar um saia justa e o desvio de temas considerados importantes para o Brasil na reunião, como os desdobramentos da crise financeira internacional.

- Não vamos suscitar esse assunto (do menino). Esse é um problema que deve ser tratado no plano judicial. Se houver questionamentos, será dito que é um tema judicial e que não vamos intervir - disse Garcia.

David tenta recuperar o filho desde 2004, quando Bruna viajou para o Rio e não voltou mais aos Estados Unidos. Em agosto passado, ela morreu ao dar à luz a primeira filha com o novo marido, Lins e Silva, que detém a guarda do garoto. O caso foi parar nas redes de TV e jornais americanos. A história foi tema especial nos programas Larry King Live e NBC Today Show, onde a secretária de Estado, Hillary Clinton, transformou a briga em assunto diplomático.

Os novos advogados da família de Bruna Bianchi não acreditam que a disputa pela guarda do menino seja abordada no encontro entre Lula e Obama. Segundo Sérgio Tostes - que, com Miguel Pachá e Rodrigo Dunshee de Abranches, entrou no caso quando ele passou a gerar estresse diplomático entre os dois países - Hillary e Obama não estão a par do processo. Hillary apelou em favor de Goldman num encontro com o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Celso Amorim. E Obama manifestou-se a favor dele num site, quando ainda era senador.

- Antes de eleição, escreve-se qualquer coisa - diz Tostes.

Pai do menino chega ao Rio hoje ou amanhã

De qualquer forma, o grupo que mantém um site bilíngue de apoio a David Goldman organiza uma manifestação em frente à Casa Branca durante o encontro entre os presidentes. Eles pretendem fretar três ônibus para levar 200 manifestantes de New Jersey e Nova York até Washington. Mas Goldman não deverá estar presente. Ele é esperado no Rio entre hoje e amanhã para fazer exames pedidos pela Justiça brasileira e tem um encontro com o filho.

De acordo com Tostes, o padrasto do menino (que ele chama de "pai sócio-afetivo") e sua irmã, Chiara, formam um núcleo familiar estável.

- É uma atitude natural do pai sócio-afetivo legitimar este núcleo familiar - defende, acrescentando que, se quer discutir a posse e guarda do menino, Goldman precisaria entrar na Justiça brasileira. - Aqui é um país soberano. O embaixador americano mandou carta para o secretário especial de Direitos Humanos alegando que a Justiça brasileira não era confiável para julgar o assunto. Por estranho que pareça, a União federal entrou com uma ação que pode prejudicar um brasileiro nato. Afinal, o menino foi registrado num consulado brasileiro.