Título: Ajuste de estoque derrubou indústria
Autor: Bôas, Bruno Villas; Casemiro, Luciana
Fonte: O Globo, 11/03/2009, Economia, p. 20

Setor freou investimentos diante de uma demanda aquém do esperado.

A forte queda da indústria e dos investimentos no último trimestre - grupos que lideraram a retração do PIB no período - reflete um processo de ajuste de estoques na economia brasileira que está só começando, alertam especialistas. Depois de um período longo de expansão de demanda, durante o qual as empresas investiram para ampliar sua capacidade de produção, a retração brusca da economia deixou industriais, agricultores e comerciantes com excesso de estoque. E, por isso, houve uma suspensão de novos investimentos.

Enquanto esses estoques não forem reduzidos, dificilmente a indústria retomará seu ritmo de produção anterior, alertam os especialistas. Fernando Montero, economista-chefe da corretora Convenção, destaca que, sazonalmente, a economia reduz seus estoques no quarto trimestre. Mas, no fim de 2008, esse movimento foi o mais intenso desde 2002.

- O problema é que este estoque está em toda a cadeia produtiva - diz Montero.

Para Francisco Faria, da LCA Consultores, o ajuste de estoques apenas começou e deve perdurar, em alguns setores, até o segundo trimestre deste ano. Esse excesso de estoque também ajuda a explicar, lembra Faria, a queda de 8,2% nas importações do último trimestre.

Além dos estoques elevados, o câmbio depreciado, o aperto no crédito, a queda nas exportações e o recuo na demanda derrubaram diferentes setores industriais. A extração de minério de ferro, por exemplo, recuou 18,9% no último trimestre, frente a igual período de 2007, devido à queda nas vendas externas. A cadeia do setor automobilístico teve forte influência na queda de 4,9% na indústria de transformação.

E, no início deste ano, a indústria brasileira continuou em queda nas 14 regiões investigadas pelo IBGE em sua pesquisa industrial regional, também divulgada ontem. As maiores retrações foram registradas em Espírito Santo (33,2%), Minas Gerais (28,9%), Amazonas (23,1%), Rio Grande do Sul (20,3%), e São Paulo (18%). (Luciana Casemiro e Luciana Rodrigues)