Título: Bradesco ainda aposta no mercado interno
Autor: Bôas, Bruno Villas; Casemiro, Luciana
Fonte: O Globo, 11/03/2009, Economia, p. 21

PIB dá o tom da posse de Trabuco. Agnelli, da Vale, diz que a "a crise está muito feia"

SÃO PAULO. A queda do PIB no quarto trimestre dominou o cenário de posse de Luiz Carlos Trabuco Cappi como novo presidente do Bradesco, na Cidade de Deus, em Osasco, onde funciona a sede do segundo maior banco privado do país. Trabuco assumiu o lugar de Marcio Cypriano.

- O país tem uma capacidade de crescimento e o mercado interno é a grande apólice de seguro que o Brasil tem para ultrapassar a crise mundial - disse Trabuco. - A confiança do Bradesco no crescimento do país vem da mobilidade social que o país tem. A emergência de classes sociais vai ser uma boa perspectiva para o futuro do país. Independentemente dos sinais conjunturais, a direção de médio e longo prazo é favorável. Se nós olharmos daqui a dez, 20 anos, veremos um país de um outro perfil de distribuição de renda.

Para ele, o Brasil vai sofrer menos que o resto do mundo.

- Esta crise é diferente para o Brasil. Todos os outros momentos, nós ou sofremos pela balança de pagamentos ou por uma grande importação de inflação, e hoje esses fatores de risco não estão presentes - acrescentando que a expansão do crédito será a alavanca para sustentar o desenvolvimento.

O presidente do Conselho de Administração do banco, Lázaro de Mello Brandão, disse que é muito cedo para se falar em recessão.

- O momento é de cautela. Não estamos no pior dos mundos. Acho que no segundo semestre vamos inverter esse quadro de queda do PIB e o país voltará a crescer - disse Brandão ao GLOBO.

Presente à solenidade - a Bradespar é uma das donas da Vale - o presidente da companhia, Roger Agnelli, disse ao GLOBO que a queda no PIB no último trimestre do ano passado significa que o país também passa por um ajuste da economia mundial, mas o Brasil está longe do processo recessivo que atinge outros países.

- O Brasil está melhor que a maioria dos países que tenho visitado e com os quais a Vale se relaciona comercialmente, inclusive os mais desenvolvidos, mas agora temos que trabalhar, trabalhar e trabalhar. Estamos no meio de uma crise global, mas temos que olhar para a frente e superar esta fase - disse, otimista, Agnelli.

Segundo ele, "a crise não parece feia, está muito feia, sobretudo para as empresas que dependem muito do mercado global, como a Vale". Ele disse que será preciso ainda uns três meses para se avaliar a extensão real da crise para a empresa que preside.

No setor de bens de capital, queda de 45% na receita

O setor de bens de capital, que depende do apetite dos empresários por novos investimentos, amargou em fevereiro uma queda recorde 45% do faturamento e de até 60% no volume de encomendas. De 30 segmentos acompanhados pela Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), apenas o de válvulas industriais acusou alguma reação, e assim mesmo porque depende de projetos da Petrobras.

- Os dados divulgados pelo IBGE mostram um retrato do passado. O quadro atual é de piora - disse o presidente da Abimaq, Luiz Albert Neto. - Recessão? No nosso setor, já estamos em recessão.

No final de outubro, a entidade criou um comitê para acompanhar os efeitos da crise, e a estimativa inicial era que o faturamento sofresse queda inferior a 20%.

- Agora, estamos discutindo se o BC vai cortar os juros em um ou 1,5 ponto percentual, quando o resto do mundo já trabalha com os menores juros da história. Isso é um crime contra o país.

- Ainda fico espantado com as avaliações, dentro do governo, de que o país vai crescer em 2009. A visão mais realista hoje é a de que teremos uma queda do nível de atividade industrial - disse o diretor de Economia da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Francini.

A Fiesp deixou de divulgar projeções para o PIB.

- Era divulgar uma previsão e, em seguida, ser desmentido pela realidade. Diante de tanta volatilidade, deixamos de fazer a divulgação.

O Iedi vai rever nos próximos dias a projeção de PIB para 2009, hoje de 1,5%. A entidade prevê algum sinal de recuperação da economia interna só a partir do segundo semestre.

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, pediu novas medidas para para evitar uma recessão.