Título: Para analistas, PIB encolherá até 2% em 2009
Autor: Bôas, Bruno Villas; Casemiro, Luciana
Fonte: O Globo, 11/03/2009, Economia, p. 21

Especialistas projetam recessão no país neste trimestre e reforçam aposta de que BC cortará juros em 1,5 ponto.

RIO e SÃO PAULO. Com o desempenho da economia muito abaixo do esperado no quarto trimestre de 2008, analistas reviram ontem suas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deste ano. Os novos cálculos revelam um cenário mais sombrio: uma retração de até 2% da economia em 2009 - configurando a primeira queda anual desde o início da série histórica do IBGE, de 1996. Os cálculos mostram que o país caminha para uma recessão técnica (dois trimestres seguidos de retração) neste início de ano, com queda de 2,4% no pior cenário de janeiro a março. E mais economistas falam agora em corte de 1,5 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic).

Marcela Prada, economista da Tendências, diz que o resultado do PIB de outubro a dezembro vai afetar o desempenho deste trimestre por carry over - efeito estatístico pelo qual um resultado influencia o do período seguinte. Além disso, a queda da produção industrial (-17,2% em janeiro ante igual mês de 2008) e as 750 mil demissões no país de dezembro a janeiro vão empurrar o país para a recessão.

- Isso quer dizer que a economia vai continuar encolhendo. Teremos menos consumo, menos produção, menos emprego - explica Marcela, que prevê queda de 0,9% no PIB neste trimestre e alta de 0,3% no ano.

Élson Telles, economista-chefe da Concórdia, diz que o resultado mostra que a crise abateu a economia antes do imaginado, afetando consumo, produção e investimentos. Por isso, ele reviu suas projeções para o PIB, de 1% para 0% neste ano:

- Há especialistas prevendo queda de 3% e 5% em investimento neste trimestre, e isso não é nenhum absurdo.

Centrais sindicais cobram novos cortes na taxa de juros

O resultado do PIB também levou analistas a reverem as apostas para a Selic, hoje em 12,75% ao ano. Das sete corretoras ouvidas pelo GLOBO, seis apostam em corte de 1,5 ponto pelo Comitê de Política Monetária (Copom), que fixa hoje a taxa. Seria o maior corte desde agosto de 2003, quando caiu dois pontos, e colocaria a taxa no nível de março de 2008 (11,25%, a mais baixa da série).

Arthur Carvalho Filho, economista-chefe da Ativa Corretora, prevê corte de 1,5 ponto na Selic. Para ele, a pressão inflacionária pelo lado da demanda segue em queda, com o recuo do consumo das famílias. Economista da Modal, Alexandre Póvoa diverge da avaliação e aposta em corte um pouco menor, de 1,25 ponto percentual.

Ontem, as duas maiores centrais sindicais do país, a CUT e a Força, atribuíram o baque do PIB à demora do BC em retomar cortes dos juros. O presidente da CUT, Arthur Henrique, disse que a redução das taxas tinha de ter começado muito antes e num ritmo mais acelerado.

- Agora, para recuperar o tempo perdido, é preciso uma queda mais drástica dos juros - afirmou Henrique.