Título: Lula minimiza queda de PIB: susto já passou
Autor: Damé, Luiza; Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 11/03/2009, Economia, p. 23

Presidente descarta recessão e já vê reação. Dilma culpa crédito e Serra cobra "acesso de lucidez" na taxa de juros.

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva minimizou ontem a queda de 3,6% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) no último trimestre de 2008, argumentando que, pelo acompanhamento dos desdobramentos da crise, a equipe econômica já projetava um resultado dessa natureza. Ele descartou, porém, que o país entre em recessão e garantiu que a recuperação da economia já está em curso em várias áreas e que por isso "o susto já passou". Lula reuniu ontem à noite o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, para avaliar o cenário econômico.

- O que aconteceu com o PIB brasileiro já era esperado pela equipe econômica no primeiro trimestre. Tínhamos consciência de que, em função do que aconteceu a partir de outubro, teríamos o primeiro trimestre fraco e temos consciência de que é possível dar a volta por cima e começar a partir de março a recuperação em várias áreas da atividade econômica - afirmou Lula, ao fim do almoço oferecido ao presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez.

Serra acredita em quadro de recessão para o país

Já o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), responsabilizou os juros "estratosféricos" pela queda do PIB, avaliando que, pelos números, o país já vive uma recessão:

- Faltou agilidade na política monetária. Espero que amanhã (hoje) o Banco Central tenha um acesso de lucidez e faça uma rebaixa do juro mais forte. Ao menos um acesso, porque eu gostaria que ficasse lúcido para sempre, mas se tiver amanhã já ajuda.

Lula, por sua vez, não descarta que o país consiga crescer 4%, antes de o ano acabar.

- Mesmo que seja próximo de zero, o Brasil certamente será um dos poucos países do mundo dos emergentes e dos grandes que não terá uma recessão - afirmou Lula.

Já Serra previu o contrário:

- Após seis meses, (o governo federal) ainda pratica a política monetária mais equivocada entre todos os países do mundo, porque manteve os juros na estratosfera, dificultando a retomada da economia. Acredito em quadro de recessão, torço para que não.

Assim como a equipe econômica e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, Lula explicou que a incerteza quanto à demanda levou a uma parada brusca da produção, sobretudo na indústria. Nesse período, apenas estoques foram desovados e, agora, haverá uma retomada gradual nas fábricas.

- Acho que já gastamos o estoque que tínhamos, e era muito estoque. Acho que o susto já passou, em muita gente. O crédito começa a se normalizar, falta a normalização do crédito mundial, que é um dos assuntos que nós pretendemos discutir no G-20 e discutir agora, com o Obama - disse o presidente.

Dilma classificou como choque violento a forte desaceleração entre outubro e dezembro do ano passado. Mas comungou do otimismo do presidente quanto às perspectivas de recuperação da atividade econômica. Ela destacou que a indústria já apresenta sinais de retomada de crescimento, como no setor automobilístico:

- Este primeiro impacto foi violento, sem sombra de dúvida. Ainda esperamos três meses difíceis, bem melhores que outubro, novembro e dezembro, mas ainda difíceis, para uma retomada maior a partir do segundo semestre.

Para Dilma, medidas começarão a fazer efeito

Para ela, o PIB reflete "um choque de crédito muito grande que houve no Brasil" e "uma proliferação de expectativas negativas, algumas delas, de um determinado ponto de vista, até injustificadas".

Segundo Lula, as medidas adotadas no país para enfrentar a crise demoraram a provocar efeito, mas "a partir de março, abril e maio" o país vai deslanchar, chegando ao fim do ano com boa recuperação econômica. As obras de infraestrutura, que ganham ritmo, o pacote de habitação, que será "muito rigoroso", e os programa sociais serão aliados neste processo.

- Agora vão começar a maturar todas as iniciativas do governo no sentido de segurar capital de giro e investimento de longo prazo. De um lado, aceleração das obras do PAC - afirmou, por sua vez, Dilma.

O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, reforçou a perspectiva de recuperação da economia. Segundo ele, após a forte retração do mercado de trabalho entre outubro e janeiro, os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que o emprego se estabilizou em fevereiro.

COLABOROU Geralda Doca, com agências internacionais