Título: Protógenes grampeou até seu superior na PF
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Fonte: O Globo, 12/03/2009, O País, p. 8

Dilma diz não temer escutas telefônicas; Gilmar defende controle externo da PF.

BRASÍLIA. Documentos enviados à CPI dos Grampos indicam que o delegado Protógenes Queiroz gravou reunião com um superior hierárquico e vazou o áudio para denunciar supostas pressões da cúpula da Polícia Federal contra a Operação Satiagraha. Um dia após prender o banqueiro Daniel Dantas, ele discutiu com Paulo de Tarso Teixeira, então chefe da Divisão de Repressão aos Crimes Financeiros da PF. O áudio da reunião, que apareceu nove dias depois no site "Terra Magazine", está num pen-drive apreendido no hotel em que Protógenes se hospedava em São Paulo.

O material foi recolhido pelo delegado Amaro Vieira Ferreira, que apura supostas irregularidades na Satiagraha. O arquivo também mostra que Protógenes interceptou ligações do ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional) e do senador Heráclito Fortes (DEM-PI), ao monitorar o publicitário Guilherme Sodré, alvo da operação. Mas Amaro registrou que, em tese, os 450 grampos foram fruto de escutas autorizadas pela Justiça.

A CPI decidiu ouvir mais 15 pessoas; oito já depuseram, como Protógenes e o juiz Fausto de Sanctis, que mandou prender Dantas. O depoimento de Protógenes foi marcado para 1º de abril. O ex-diretor da Abin Paulo Lacerda foi chamado pela terceira vez. Ainda foram chamados o ex-ministro José Dirceu e o senador Jarbas Vasconcellos (PMDB-PE), que se disse vítima de arapongas ao criticar o partido. Eles não são obrigados a depor.

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, defendeu ontem o controle externo da Polícia Federal, com a criação de uma corregedoria judicial de polícia "para evitar os abusos de poder que vêm ocorrendo nesse órgão".

O ministro da Justiça, Tarso Genro, afirmou que a PF já investiga suspeitas de violação de normas, entre elas a que teria cometido o delegado Protógenes, e que o STF e a Procuradoria da República não pautam essas investigações:

- A PF tem a orientação, e essa orientação não veio de fora, mas do presidente Lula.

A chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, afirmou ontem não temer escutas telefônicas. Ao comentar a informação da revista "Veja" de que teria sido alvo de investigação paralela feita pelo delegado Protógenes Queiroz, Dilma pôs em dúvida as denúncias. Perguntada se houve abuso, disse:

- Se houve grampo, teve - disse Dilma. - Alguém de vocês sabe se houve grampo? Vocês sabem se todo aquele relatório é fidedigno?