Título: Sarney protesta e diz que Senado virou boi de piranha
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 13/03/2009, O País, p. 5

CONGRESSO NA BERLINDA: Casa vai adotar ponto eletrônico.

"Não tem caixa-preta. Não há Casa mais aberta que essa"

BRASÍLIA. Quase um mês e meio depois de eleito presidente do Senado, período em que passou a maior parte do tempo respondendo a denúncias de corrupção, José Sarney (PMDB-AP) fez ontem um desabafo: disse que a Casa se transformou em "boi de piranha", embora todos os poderes enfrentem problemas administrativos. Para Sarney, o Senado virou alvo de denúncias por ser transparente em suas ações e não por ser uma "caixa-preta", como muitos gostam de classificá-lo. Ele anunciou a adoção do ponto eletrônico para os servidores da Casa, após a denúncia de que funcionários receberam hora extra durante o recesso.

Para Sarney, o Senado tem temas mais importantes para discutir, em vez de ficar cuidando de questões burocráticas.

- Estamos sendo o que popularmente se chama de boi de piranha. Enquanto tudo passa, nós ficamos aqui na frente. E os grandes problemas não estão surgindo. Estamos discutindo pequenas coisas - reclamou.

Sarney refutou a crítica de que a Casa é uma caixa-preta:

- Não tem caixa-preta nenhuma. Não há Casa mais aberta do que essa, onde as decisões são tomadas à luz do dia. Há uma diferença muito grande entre o Legislativo, Judiciário e o Executivo. Aqui, as nossas decisões são públicas e é por isso que sofremos essa crítica permanente, porque somos sujeitos à fiscalização diária.

A lista de problemas burocráticos que têm atrapalhado a vida de Sarney, porém, não pára de crescer. A partir da demissão do ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia, em meio a suspeitas de que ele teria omitido do patrimônio uma mansão avaliada em R$5 milhões, as denúncias contra a instituição têm surgido quase que diariamente.

"Cada senador vai controlar funcionários submetidos a ele"

A denúncia mais recente (a de que o Senado gastou R$6,2 milhões com horas extras para 3.883 funcionários durante o recesso) fez Sarney anunciar a adoção do ponto eletrônico.

- Uma coisa que está praticamente decidida é o ponto eletrônico para marcar as horas extras em relação aos funcionários dos gabinetes. Evidente que cada senador vai controlar os funcionários submetidos a ele. Essa é uma decisão da 1ª secretaria com a qual estou totalmente de acordo.

Sarney teve que explicar o envio, no fim de fevereiro, de quatro seguranças do Senado para fazer a proteção de sua casa no Maranhão. Segundo ele, o reforço de segurança foi solicitado diante da ameaça de que a casa seria invadida e queimada em meio ao julgamento de cassação do governador Jackson Lago (PDT), adversário de Sarney.

- A polícia do Senado, que não é armada, existe para garantir a segurança dos senadores. Foi divulgado e está sendo divulgado que vão explodir a minha casa. Pedi aos seguranças, que, dentro da sua função normal, fossem averiguar a veracidade disso e fizessem rastreamento na minha casa, como de qualquer senador.