Título: Sem demanda, BC adia pela 2ª vez crédito a empresas com reservas
Autor: Duarte, Patrícia; Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 13/03/2009, Economia, p. 22

Com menos estrangeiros, Bovespa sobe 0,89% e NY tem alta de 3,5%

BRASÍLIA, RIO, NOVA YORK e QUITO. Por falta de demanda, o Banco Central (BC) decidiu cancelar, pela segunda vez, o desembolso da linha de crédito com recursos das reservas internacionais previsto para hoje. Também abortou a operação marcada para o dia 27 e definiu novo cronograma para tentar realizar os empréstimos.

Em comunicado distribuído ontem, o BC informou que existe uma demanda estimada de US$2,5 bilhões pelas linhas e que diariamente vem recebendo consultas de interessados. O valor, porém, é muito baixo se comparado com a estimativa inicial do presidente do BC, Henrique Meirelles, de US$20 bilhões. O mecanismo tem à disposição até US$36 bilhões dos cerca de US$200 bilhões em reservas.

No dia 27 de fevereiro, deveria ter ocorrido o primeiro desembolso, voltado a empresas com endividamento no exterior e dificuldades para conseguir financiamento por causa da crise. Segundo o mercado, a falta de demanda se deve às elevadas taxas cobradas pelos bancos.

Os recursos serão repassados às empresas por meio de bancos, que terão de negociar com cada cliente o custo. Ao BC, essas instituições terão de pagar a variação da Libor - taxa britânica hoje em torno de 2% ao ano - mais 1,5%.

Pessoas físicas lideram participação na Bovespa

O novo calendário do BC para tirar a linha do papel é 20 e 31 de março; 15 e 30 de abril; 15 e 29 de maio; e 15 e 30 de junho.

Ontem, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) teve sua terceira alta consecutiva: subiu 0,89% para 39.151 pontos, puxada pelas bolsas americanas. A Bovespa passou boa parte do dia perto da variação zero e chegou a cair até 1,33%, com dados fracos da economia chinesa, que tiveram impacto nos papéis da Vale. As ações ordinárias (ON, com voto) da mineradora caíram 1,74%. O dólar comercial encerrou o dia em queda de 2,12%, a R$2,301.

O crescimento da produção industrial na China desacelerou para 3,8% no primeiro bimestre, ante igual período de 2008, desempenho menor que os 5,7% registrados em dezembro. O movimento foi provocado pela queda recorde das exportações.

O economista da Way Investimentos, Alexandre Espírito Santo, avalia que a Bolsa brasileira tem dificuldade para se sustentar em alta devido à redução da presença dos estrangeiros, que preferem comprar ações que ficaram baratas em seus países. Caso, por exemplo, dos papéis do Citi, que saíram de US$55 em 2007 para menos de US$2.

Com isso, o saldo de investimentos estrangeiros está negativo em R$1,396 bilhão no ano, e a participação no pregão tem caído. Já a fatia de pessoas físicas tem aumentado: em março, são o maior grupo de investidores, com 33,6% do volume negociado.

Nos EUA, o mercado reagiu melhor que o esperado à queda nas vendas do varejo e ao rebaixamento da classificação de risco da General Electric pela Standard & Poor"s. O Dow Jones subiu 3,5%. Tanto S&P 500 quanto Nasdaq avançaram 4%.

As bolsas europeias fecharam em alta, impulsionadas pelo setor de varejo. Paris subiu 0,75%, Londres, 0,49%, e Frankfurt, 1,08%. Na Ásia, Tóquio caiu 2,4%, mas Hong Kong subiu 0,59%.

As vendas no varejo americano caíram 0,1% em fevereiro, ante estimativa de 0,5% do mercado. O desempenho de janeiro foi revisado, de alta de 1% para 1,8%, o maior aumento em três anos. O estoque das empresas nos Estados Unidos, por outro lado, caiu 1% em janeiro. É a quinta queda consecutiva, o mais longo período de recuo desde os 15 meses encerrados em abril de 2002.

Já o número de trabalhadores americanos que entraram com novos pedidos de auxílio-desemprego subiu a 654 mil na semana passada, alta de nove mil. Com isso, o número de pessoas que recebem o benefício por mais de uma semana alcançou 5,3 milhões, o maior patamar desde o início da série, em 1967.

Equador declara moratória de parte da dívida

O Equador declarou ontem a moratória de parte de sua dívida externa ao não pagar US$135 milhões de juros dos bônus globais com vencimento em 2030, informou a ministra de Finanças, María Elsa Viteri. O país havia adiado esse pagamento em 14 de fevereiro.

A medida se soma à moratória declarada em 12 de dezembro do ano passado para os bônus Global 2012. Os dois papéis fazem parte da dívida externa que o Equador considera ""ilegal e ilegítima" e corresponde a US$3,210 bilhões, 32% do endividamento externo do país.

(*) Com Bloomberg News e agências internacionais