Título: CNI: 80% alteraram quadro de pessoal
Autor: Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 13/03/2009, Economia, p. 23

Destas empresas, 54% demitiram ou cortaram funcionários terceirizados.

BRASÍLIA e RIO. Sondagem da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que, oito em cada dez empresas fizeram forte ajuste de seu quadro de pessoal desde o agravamento da crise. Deste universo, 54% assumem que demitiram funcionários ou suspenderam serviços terceirizados. Além disso, 53% dos empresários desistiram de contratar, e 36% confessam que podem continuar a cortar pessoal nos próximos meses.

O levantamento também coloca água na tese de que a economia brasileira pode se recuperar neste fim de trimestre. Das 431 companhias ouvidas, oito em cada dez tiveram seus negócios abatidos pela tsunami financeira, 55% disseram que este impacto se agravou desde dezembro, e 79% acham que o efeito negativo para a economia brasileira foi acentuado. Quanto ao futuro, 35% apostam em recuperação apenas em 2010.

- Existe uma percepção cada vez maior de que a crise está se intensificando. Aquela teoria do descolamento do país em relação ao resto do mundo é frágil, pois o mundo está pior e o Brasil também está ficando pior - disse o presidente da CNI, Armando Monteiro Neto.

Só 31% dos entrevistados acreditam que a crise terá fim em 2009, enquanto 35% apostam em recuperação apenas em 2010. O grau de incerteza é tanto que 22% dos empresários não arriscam palpite sobre o futuro.

Apesar de garantir que o país não caminha para uma recessão técnica - dois trimestres seguidos de retração econômica -, Monteiro avalia que, mesmo com uma recuperação no segundo semestre, o crescimento em 2009 já está comprometido.

- Com realismo, diria que tudo indica que a recuperação da economia mundial virá só em 2010. O Brasil vai sentir menos que outros países, mas isso ainda pode significar crescimento zero ou negativo.

Para Ipea, corte de juros melhora expectativa

Perguntados sobre a atuação do Banco Central, que esta semana cortou em 1,5 ponto percentual (para 11,25%) a taxa básica de juros Selic, apenas 3% do empresariado consideram que as intervenções da instituição têm conseguido reaquecer a economia.

O pessimismo é reiterado na pesquisa Sensor Econômico, feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com 115 entidades representativas de trabalhadores e empresas de diversos setores da economia (exceto o financeiro), em fevereiro. O presidente do Ipea, Marcio Pochmann, avalia que a expectativa pode melhorar, com o corte de juros pelo BC.

- A redução dos juros não tem efeito imediato para a economia. Mas do ponto de vista da expectativa, a decisão pode dar uma indicação de compromisso com a convergência da política macroeconômica em torno da defesa da produção e do emprego - disse ele, acrescentando que não há expectativa de recessão no Brasil este ano.