Título: Emprego na indústria recua 1,3% em janeiro
Autor: Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 13/03/2009, Economia, p. 23

Cortes generalizados em 12 setores revelam o aprofundamento da crise. Folha de pagamento caiu 1,2%.

O emprego na indústria sofreu em janeiro um segundo grande golpe da crise econômica mundial. Com recuo acumulado de 18,2% da produção desde outubro, a indústria brasileira cortou mais 1,3% do seu pessoal em janeiro frente ao mês anterior. Em dezembro, as demissões já haviam encolhido os quadros em 1,9%. Segundo o IBGE, os cortes foram generalizados e refletem o aprofundamento da crise. Desde outubro de 2008, o número de empregados no setor recuou em 3,9%. Na comparação com janeiro do ano passado, a taxa ficou negativa em 2,5%, a pior da série, iniciada em 2001.

As demissões atingiram 12 dos 18 ramos da indústria acompanhados. Entre as regiões, houve queda em 13 dos 14 locais pesquisados. O emprego segue encolhendo de forma mais agressiva, avalia André Luiz Macedo, técnico da coordenação de indústrias do IBGE .

- Em outubro e novembro tínhamos taxas ligeiramente negativas. Agora, estamos assistindo a quedas expressivas que mostram uma desaceleração acentuada da atividade econômica. A crise atingiu o emprego industrial com mais força.

Rio teve primeira queda após 15 meses de alta

Os segmentos vestuário (-8,2%), calçados e couro (-10,3%) e madeira (-13,3%) puxaram as demissões. São os mesmos que haviam puxado a queda em dezembro. Já eletroeletrônicos (-0,3%), automobilístico (-1,9%) e máquinas e equipamentos (-0,7%), que lideraram o aumento do emprego ao longo de 2008, sofreram um tombo em janeiro.

- Esses setores contrataram fortemente até setembro, quando começaram a desacelerar, após a piora da crise. Agora, estão demitindo.

Entre as regiões, indústrias de São Paulo (-2,1%) e do Norte e Centro-Oeste (-4,5%) tiveram maior redução de pessoal. O Rio teve sua primeira queda (-1,1%) após 15 meses de taxas positivas. Foi o maior recuou desde março de 2006 (-1,4%).

Para Iedi, recuperação só no terceiro trimestre

O número de horas pagas também foi afetado. Ficou negativo pela quarta vez consecutiva, tanto em relação ao mês anterior (-1,8%) quanto frente a igual mês de 2008 (-3,6%). Termômetro da produção, o indicador sofreu efeitos das férias coletivas e paralisações.

Já a folha de pagamento real (descontada a inflação) recuou 1,2% frente a dezembro de 2008. Ante janeiro do ano passado, avançou 1,2%, mas ainda assim foi o menor resultado desde dezembro de 2006 (0,5%).

Para Rogério César de Souza, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o emprego deve continuar com taxas negativas em fevereiro e março. O Iedi, que previa uma recuperação em junho, reviu sua projeção de retomada para o terceiro trimestre.

- Como a produção segue sem recuperação, infelizmente a perspectiva é de agravamento nos próximos meses.

Já Cláudio Dedecca, da Unicamp, relativiza o resultado. Como janeiro de 2008 foi atípico, com taxa de ocupação estável (geralmente há queda frente a dezembro), o desempenho não teria sido tão ruim. Dedecca acredita, no entanto, em novas taxas negativas até março.

- Com o reajuste do salário mínimo e a retomada do setor automotivo, pode haver recuperação no segundo trimestre.