Título: Chávez militariza portos e aeroportos
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Fonte: O Globo, 16/03/2009, O Mundo, p. 20
Venezuelano toma áreas controladas pela oposição e anuncia radicalização da revolução.
CARACAS. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, anunciou ontem o que chamou de "radicalização do processo revolucionário". Segundo ele, as mudanças que têm feito levarão a uma "busca mais intensa de suas raízes revolucionárias e bolivarianas". Num dia marcado pela ordem do presidente para que militares tomassem portos e aeroportos de cidades governadas por políticos de oposição, Chávez declarou que a radicalização exclui qualquer acordo ou negociação com o que considera a "oligarquia nacional, controladora do capital e do poder econômico".
- Não há pacto possível com a oligarquia. Mas ninguém deve ter medo da palavra radical, porque ela significa volta à raiz e esta revolução será cada dia mais radical porque irá cada dia mais fundo em suas raízes - disse ele em seu programa dominical de rádio e televisão "Alô Presidente".
Ocupação deve começar nesta semana
Chávez disse que desde que assumiu o poder, há dez anos, já aconteceram várias tentativas de demovê-lo de seus ideais bolivarianos, mas que todos fracassaram.
Ontem, Chávez ordenou à Marinha que ocupasse os portos de Maracaibo e Puerto Cabello. Os governadores oposicionistas dos estados de Zulia e Carabobo, onde ficam os portos, se recusam a transferir sua gestão ao governo federal. A ocupação militar deve começar nesta semana.
A tomada dos portos havia sido autorizada na sexta-feira à noite pela Assembleia Nacional da Venezuela, controlada pelo governo. Os deputados aprovaram a uma lei que passou ao controle do governo federal todos os aeroportos, estradas e portos, numa medida que críticos acusaram de expandir os poderes de Chávez.
Os governadores da oposição advertiram que a lei visa a estrangular financeiramente os adversários do governo, que em novembro passado venceram, nas eleições regionais, em estados e municípios de peso no país (Miranda, Zulia, Carabobo, Táchira, Nova Esparta, a Prefeitura Maior de Caracas e o município de Sucre, entre outros), que juntos representam 45% do total de eleitores venezuelanos e aproximadamente 70% do Produto Interno Bruto da Venezuela.
A oposição aposta no desgaste do chavismo e espera ressurgir das cinzas nas eleições parlamentares de 2010.
A ocupação de portos e aeroportos e a luta "contra as oligarquias" foram anunciadas duas semanas após uma série de expropriações, que incluíram propriedades das americanas Coca-Cola e Cargill e da irlandesa Smurfit Kappa - o que Chávez diz ter sido fundamental para viabilizar sua "revolução agrária" e seu plano de soberania e "segurança alimentar", garantindo o acesso da população a alimentos a preços justos.
Críticas a donos de carros de luxo que abastecem a US$3
Também ontem, Chávez disse que bombardeiros russos seriam bem-vindos na Venezuela, mas negou que seu país fosse ceder seu território para uma nova base militar do país aliado. A mídia russa chegou a afirmar que a Venezuela havia oferecido ao país uma ilha inteira para a construção da base.
Além disso, também no seu programa dominical de rádio e televisão, Chávez criticou donos de carros de luxo e caminhonetes por consumir a gasolina subsidiada do país, onde o acesso barato ao combustível é visto como um direito da população. Encher um taque na Venezuela, onde os preços da gasolina estão congelados há dez anos, sai por apenas US$3.
- Essas pessoas consomem muita gasolina nesses carros de luxo, isso não é justo. Estamos praticamente dando gasolina de graça - afirmou o presidente.