Título: Cresce ameaça a jornalistas na América Latina
Autor:
Fonte: O Globo, 16/03/2009, O Mundo, p. 20

Falta segurança para o trabalho da imprensa em Venezuela, Bolívia, Cuba e Nicarágua.

ASSUNÇÃO. A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) disse ontem que não existe garantia de segurança para o trabalho de jornalistas em Venezuela, Bolívia, Cuba e Nicarágua. O presidente da SIP, Enrique Santos Calderón, afirmou que nos últimos oito meses esses quatro países foram palco de violência contra jornalistas. Calderón destacou ainda atentados contra empresas de comunicação.

- Em muitos países há uma clara deterioração na relação entre imprensa e governo. Há também um persistente uso indevido de fundos públicos em comunicação pelos governos - afirmou Calderón durante a cerimônia de abertura de uma reunião da SIP na capital do Paraguai.

Segundo Calderón, uma comissão da SIP esteve recentemente na Nicarágua e verificou graves problemas sofridos pela imprensa:

- Há um grande enfrentamento entre a imprensa e o governo. E, ainda que o presidente Daniel Ortega tenha nos fechado a porta, pudemos conversar com vários setores da sociedade .

A SIP apresentará hoje um relatório sobre liberdade de imprensa e expressão na América Latina.

- A Comissão de Liberdade de Imprensa da SIP exige maiores garantias para os jornalistas que trabalham na Bolívia, em Cuba, na Nicarágua e na Venezuela. Na Bolívia, acontece um dos mais graves conflitos entre a imprensa e o governo - disse o presidente da SIP.

Ele afirmou que a comissão também destaca em seu relatório "o apoio à descriminalização das acusações de injúria e calúnia". A comissão, porém, elogia a aprovação de leis que garantem o acesso à informação pública no Chile, na Guatemala e no Uruguai.

Calderón frisou ainda que jornalistas continuam a ser vítimas de crimes:

- Treze jornalistas foram assassinados no exercício da profissão em 2008. E somente nos dois primeiros meses de 2009 aconteceram quatro assassinatos: um no Paraguai, um na Venezuela e dois no México. Há ainda centenas de casos mais antigos de jornalistas assassinados que permanecem impunes.

A SIP encaminhou à Corte Interamericana de Direitos Humanos 23 casos de assassinato de jornalistas.

Esperança de recuperação de empresas

A reunião da SIP também discutiu o impacto da crise financeira internacional sobre as empresas de comunicação. Ontem foi divulgada a edição deste ano do relatório "Situação das Empresas de Comunicação", realizado pelo Projeto para Excelência em Jornalismo, em Nova York. O relatório considera a situação da indústria jornalística desoladora, mas sugere que ainda há esperança de recuperação das empresas.

Enquanto o modelo de negócios de algumas organizações parece estar quebrando, há pouca indicação de que os consumidores estejam perdendo o interesse por notícias, disse o estudo. Quatro empresas de comunicação americanas pediram falência nos últimos meses. Porém, grandes jornais como "The New York Times" e o "Washington Post" registram as maiores audiências de sua história, quando a leitura de seus sites é levada em conta, disse Tom Rosenstiel, diretor do Projeto. A audiência dos 50 principais sites de notícias aumentou 27% em 2008, de acordo com o relatório.

- Não é que a indústria de comunicação esteja morrendo. O que existe é uma desorientação - disse Rosenstiel.

Ele acrescentou que os jornais ainda não conseguiram tornar seus sites lucrativos.