Título: Obrigado a sair
Autor: Colon, Leandro; Rocha, Marcelo
Fonte: Correio Braziliense, 14/03/2009, Política, p. 2

SENADO

João Zoghbi, diretor de Recursos Humanos, deixa poderoso cargo depois de admitir que repassou um apartamento funcional para o filho morar, enquanto residia numa luxuosa casa no Lago Sul

-------------------------------------------------------------------------------- Leandro Colon e Marcelo Rocha Da equipe do Correio A administração do Senado sofreu mais um duro golpe. João Carlos Zoghbi teve de deixar a poderosa Diretoria de Recursos Humanos da Casa após a revelação de que repassou aos filhos um luxuoso apartamento funcional de 180 metros quadrados. O diretor do setor de pessoal era o responsável por uma folha de pagamento de R$ 2,1 bilhões anuais e articulava para assumir a Diretoria-Geral após a saída do aliado Agaciel Maia na semana passada. Os dois davam as cartas na estrutura administrativa desde 1995. Agora, retornam ao quadro dos servidores efetivos comuns.

Na última quinta-feira, o Correio revelou que Zoghbi era suspeito de ter entregue aos filhos as chaves de um apartamento na 112 Norte que recebeu do Senado para morar em 1999. Enquanto isso, permanece até hoje vivendo numa casa de 776 metros quadrados na QI 25 do Lago Sul. A situação de Zoghbi já vinha se deteriorando desde outubro passado, quando teve que exonerar a mulher e dois filhos que ocupavam cargos de confiança no Senado. Um dos filhos, Ricardo, aliás, aparece como dono da residência no Lago Sul. Esse era o argumento de Zoghbi para dizer que não vivia na casa. Mas a reportagem mostrou que foi Zoghbi quem adquiriu a propriedade em 1992, colocando-a em nome do filho, então adolescente. Além disso, moradores e funcionários do prédio confirmaram que o servidor jamais viveu no imóvel funcional.

Explicação A nota oficial divulgada por ele na quinta-feira passada sobre o episódio foi o estopim para o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), decidir por sua saída. Num comunicado confuso, Zoghbi admitiu que repassou o apartamento funcional aos parentes. Ontem pela manhã, foi avisado que teria que pedir exoneração do cargo até o fim do dia. Sarney não estava disposto a assumir o desgaste de ter que afastá-lo. Ficou combinado então a mesma solução do caso de Agaciel Maia: caberia ao diretor entregar o pedido de exoneração. Foi o que Zoghbi fez no fim da tarde.

Responsável pela administração dos apartamentos, o novo primeiro-secretário, Heráclito Fortes (DEM-PI), fez um breve comentário sobre a exoneração do diretor de Recursos Humanos. ¿Não convivo com o erro¿, disse. O senador tem se incomodado com as recentes denúncias de irregularidades na administração do Senado, já que são oriundas de gestões anteriores, como a do colega de partido, Efraim Morais (DEM-PB).

Para o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), a saída de Zoghbi contribui para renovar o Senado. ¿É lamentável e desgastante, mas pior se ele continuasse debaixo de suspeitas. Isso ajuda o presidente Sarney a escolher pessoas novas¿, disse. O nome do novo diretor de Recursos Humanos deve ser divulgado na segunda-feira. A queda de Zoghbi fortaleceu a permanência de José Alexandre Gazineo na diretoria-geral do Senado. Ele era o diretor-adjunto até a demissão de Agaciel Maia. Foi colocado como interino. Por enquanto, ganha espaço para ser efetivado.

Efeito dominó

José Varella Agaciel Maia: desgaste depois do escândalo da casa no Lago Sul

A queda de João Carlos Zoghbi da poderosa Diretoria de Recursos Humanos do Senado ocorre 10 dias depois da exoneração de Agaciel Maia da Diretoria-Geral da Casa. É um efeito dominó que começou no ano passado, com a saída do então advogado-geral, Alberto Cascais, e dos diretores de Compras e de Fiscalização, Dimitrios Hadjnicolau e Aloizio Brito Vieira. Os cinco comandavam com mão de ferro o Senado até o ano passado. Agora, voltam ao baixo clero da Casa.

Agaciel Maia caiu após a denúncia de que ocultou a propriedade de uma mansão no Lago Sul avaliada em R$ 5 milhões. O ex-diretor-geral também era suspeito de irregularidades em licitações para contratar empresas terceirizadas. Zoghbi sonhava substituir Agaciel. Juntos, administravam um orçamento de R$ 2,7 bilhões, sendo R$ 2,1 bilhões só de folha de pagamento.

Em outubro do ano passado, Alberto Cascais perdeu a Advocacia-Geral depois que tentou encontrar uma brecha para ajudar os senadores a manterem os parentes empregados apesar da decisão judicial contra o nepotismo. Pressionado, o então presidente Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) exonerou Cascais. Pouco antes, o senador afastou Dimitrios e Aloizio Vieira do comando de secretarias importantes depois que foram alvos de uma ação criminal por fraude em licitações. Ambos já são réus num processo por improbidade administrativa.