Título: Berzoini: Dirceu não fala em nome do partido
Autor: Menezes, Maiá; Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 15/03/2009, O País, p. 8

Para outro cacique, no entanto, ex-ministro tem aval até do Planalto.

SÃO PAULO e RIO. Nos estados que visita, o ex-ministro José Dirceu costuma se encontrar com os dois lados da disputa local para o ano que vem, ouve queixas, reivindicações, e se coloca como interlocutor. Tem espaço garantido nas mesas de discussão política para 2010. A iniciativa, geralmente, é dele próprio. Mas, nas conversas, ele se comporta como se ainda pertencesse ao governo ou à direção partidária, transmitindo recados, orientações e posições.

Segundo o presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, Dirceu não tem autorização para negociar em nome do partido.

- José Dirceu tem suas relações políticas, mas quem fala em nome do partido é só a direção nacional - disse.

Os principais alvos das atividades políticas de Dirceu têm sido os líderes regionais do PMDB. Na vitoriosa campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência em 2002, ele chegou a articular uma aliança com o PMDB, mas no último momento o próprio Lula descartou o acordo.

Poder de Dirceu se reduz a um terço de seu grupo

Nos textos que publica diariamente em seu blog, Dirceu faz questão de destacar a importância do PMDB na eleição de Dilma em 2010. No ano passado, foi alvo de críticas do governador petista da Bahia, Jaques Wagner, ao escrever que o PT deveria ter aberto mão da candidatura própria para apoiar o prefeito João Henrique (PMDB). Na sexta-feira, ele voltou a destacar a importância da aliança: "Em Minas, tem que ser feito um acordo com o PMDB. Ainda que se precise ter dois palanques. Minas e Rio são as bases da vitória em 2010. PT e PMDB têm que estar aliados em Minas, caso contrário vamos para uma disputa imprevisível".

- Dirceu tem rodado o país e conversado com os caciques do PMDB para aparar arestas e facilitar uma aliança em 2010. Tanto o Planalto quanto a direção do PT sabem disso - disse um importante líder do partido.

Além de reassumir um papel relevante no jogo político nacional, Dirceu trabalha por sua imagem. Se até 2005 - ano do mensalão - a palavra de Dirceu era incontestável no partido, sua área de influência hoje se resume a um terço do CNB, segundo avaliação de líderes partidários. O processo de eleições internas de novembro é visto como essencial. Foi com esse objetivo que Dirceu participou de um encontro regional do PT em Cuiabá (MT), na semana passada.

Dirceu foi procurado pelo GLOBO desde quinta-feira, mas se recusou a comentar o assunto. Segundo seus amigos, o ex-ministro nunca deixou de fazer política, embora tenha perdido seus cargos no governo e na Câmara. Teria ficado, ainda, magoado por não ter sido incluído no grupo que cuida da pré-campanha de Dilma Rousseff.