Título: G-20 vai propor regulação de agências de risco
Autor: Domingues, Bernardo Pires
Fonte: O Globo, 15/03/2009, Economia, p. 28

Em reunião na Inglaterra preparatória da cúpula dos presidentes, ministros de Finanças debatem também recursos para FMI.

HORSHAM, Inglaterra. Ministros da Fazenda e presidentes de bancos centrais do G-20 (grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo) - que estavam reunidos ontem à tarde no sul da Inglaterra para preparar a cúpula de seus presidentes no dia 2 de abril -, tentavam evitar a defesa de estímulos fiscais adicionais aos recursos que os membros já estão bombeando em suas economias, afirmou uma fonte. Segundo a mesma fonte, o comunicado formal dos ministros proporá um grande aumento nos recursos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e a regulação das agências de classificação de risco, cujo papel na crise de crédito global tem sido muito criticado.

Economias da zona do euro têm resistido aos apelos dos Estados Unidos para que elevem seus planos de estímulo, argumentando que os recursos já injetados nas economias precisam de tempo para surtir efeito e que suas políticas sociais já asseguram um impulso automático de gastos.

- Nós não estamos mais tendo o debate de regulação versus estímulo- afirmou a fonte.

A expectativa predominante é que os países concordem em duplicar os fundos do FMI para combater a crise de US$500 bilhões. Japão e Europa já indicaram que poderão elevar suas contribuições. Alguns países desenvolvidos tem defendido que economias emergentes mais prósperas, como China e Arábia Saudita, também contribuam.

- Defenderemos um aumento significativo nos recursos do FMI - afirmou a fonte. - Países asiáticos emergentes não querem emprestar ao FMI porque há muito estigma em seus países associado ao FMI.

O debate sobre soluções para a crise econômica global colocou em lados opostos as principais nações do G-20. De um lado, EUA defendem uma política de ampliação de gastos públicos para estimular a demanda na economia. De outro, nações europeias e o Japão afirmam que já criaram todos os estímulos fiscais possíveis e que ampliar os gastos governamentais aumentará o déficit público, com poucos efeitos práticos no combate à recessão global.

Para Washington, é necessário mais injeção de dinheiro, enquanto Alemanha e França, principais nações do bloco europeu, defendem maior regulação dos mercados e a execução dos programas já anunciados. O ministro de Finanças do Japão, Kaoru Yosano, aproximou-se da posição americana, defendendo a aplicação de mais recursos para fazer a economia mundial pegar no tranco.

"As questões imediatas são estabilizar o sistema financeiro e sair da atual ameaça de deflação", afirmou Yosano ao "Financial Times", na sexta-feira, na abertura da reunião de ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais do G-20, em Londres.

Mantega quer fluxos de capital geridos pelo FMI

Os países dos Brics (grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia e China) aproveitaram a discussão de uma nova ordem na economia mundial para pleitear uma maior representação dos emergentes nos fóruns e instituições muitilaterais. A China disse estar pronta para fazer mais, se necessário, para estimular o crescimento.

O ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, que também participou da reunião em Horsham, disse que o Brasil defenderá um reequilíbrio do fluxo internacional de capital. Mantega argumentou que as crises são resultados do voo de capital dos países emergentes, e que nações como os EUA e Japão, que estão recebendo grande volume de investimentos, já que suas moedas são tidas como porto seguro, deveriam pôr esse dinheiro no FMI, que o distribuiria entre as nações emergentes através de empréstimos.

Apesar das divergências, a ministra de Finanças da França, Christine Lagarde, afirmou estar confiante que o G-20 consiga chegar a um compromisso na reunião de abril, envolvendo uma maior regulação dos mercados financeiros globais e também medidas de estímulo para conter a crise financeira.

- Todos estão trabalhando com esse espírito - disse ela, quando indagada, na sexta-feira, se um acordo era possível. As declarações representaram uma mudança de tom. Antes, Christine criticara os EUA, afirmando que o país estava mais lento que os europeus nas ações para dar à economia estímulo necessário.

O ministro de Finanças britânico, Alistair Darling, anfitrião da reunião do fim de semana, também manifestou otimismo, embora tenha admitido que há divergências:

- Obviamente, se você tem 20 pessoas sentadas em volta da mesa, haverá diferenças. Mas acho que há muitas coisas em comum. Se você pega ações de estímulo fiscal, os EUA têm, nós temos, os franceses têm, os alemães têm.

O presidente do Banco Mundial (Bird), Robert Zoellick, disse, por sua vez, que investir mais dinheiro dos países do G-20, como querem os EUA, significaria apenas dar um placebo à economia mundial, se os bancos não estiverem estabilizados.

- Se o problema bancário não for atacado, os estímulos serão apenas um placebo. Darão energia ao sistema, mas, depois, haverá uma queda, se o fluxo do crédito não voltar - disse Zoellick.

(*) Com Bloomberg News